10 dezembro, 2007

Foi um sucesso pá, não foi?

A mensagem vem repetida, a uma só voz, em toda a imprensa portuguesa. A cimeira Europa-África foi um sucesso alterando o paradigma das relações entre os dois continentes. Doravante partilhamos a “mesma agenda”. Que sentido tem isto? Como é que o continente onde se encontra a maioria dos países mais miseráveis do mundo pode ter a mesma agenda do bloco comercial mais poderoso do planeta? Qual é a agenda comum entre um operário qualificado alemão e um trabalhador agrícola moçambicano, que passa quase toda a sua a vida sem sair do latifúndio onde trabalha? E entre a economia francesa e do Chade. A "mesma agenda" não passa de um eufemismo para a liberalização e desregulação dos mercados. Foi esse o caminho para o desenvolvimento que a Europa propôs a África. Não deixa de ser irónico que os líderes de um gigante agrícola altamente subsidiado, fechado e regulado se dirijam, paternalistamente, para os países pobres ou em vias de desenvolvimento e exijam a abertura total e desregulação do seu mercado como condição para o seu interesse. O que é bom para nós nos desenvolvermos e tornarmos ricos não serve para vocês. Nós temos a receita. É o liberalismo assimétrico no seu esplendor

Que tenha sido um dos poucos líderes decentes a bater com a porta, o presidente do Senegal, ou a principal potência industrial, a África do Sul, a dizer que os acordos de parceria economia não servem é sintomático. Parece que alguns ditadores provocam dores de cabeça a Gordon Brown e demais líderes europeus. Passam a vida a falar de bom governo e governança enquanto as empresas europeias florescem com acordos leoninos assinados às claras com as piores tiranias. Mas, como sempre, as dores de cabeça e os embaraços que contam ainda têm lugar com a autonomia que só a democracia permite.

16 comments:

Unknown disse...

"um trabalhador agrícola moçambicano, que passa quase toda a sua a vida sem sair do latifúndio onde trabalha"

Latifundio?

Mas o meu amigo já algum dia esteve em Moçambique?
O trabalhador agrícola moçambicano, é regra geral uma trabalhadora, de filho às costas, que planta milho para consumo próprio.
Tomaram, elas e eles, que lá aparecesse alguém com um latifúndio e que lhes desse um trabalho que não os deixase à mercê da fome, se não chove, se vem bicho, se lhe roubam, etc.

Vá lá ver homem de Deus e fale depois, que isto de largar postas de barriga cheia, só lhe aprofunda o ridículo.
Latifundio em Moçambique?
Mas você ignora que não há em Moçambique terras privadas?
É tudo do Estado, minha alminha tonta...e o estado empresta por prazos curtos.
Chiça!

Pedro Sales disse...

O-lidador,

Deduzo então que a plantação agrícola, para fins não alimentares, que a Galp está a arranjar em Moçambique é um minifúndio de 50 mil hectares.

O exemplo que dei foi dado no outro dia numa reportagem da TSF. Se é verdade ou não não sei. Mas pareceu-me muito convincente.

Unknown disse...

É...parece-nos sempre convicente aquilo em que já acreditamos à partida.
Como deduzi, o meu amigo polinizou pelo ouvido.

Aqui este seu amigo não gosta de invocar o argumento da autoridade, mas neste caso até pode.
Estive lá há 5 anos, a trabalhar durante um ano em Cahora Bassa, e sei qual o estilo de vida da generalidade das pessoas.
Eu pagava aos meus trabalhadores cerca de 1,5 milhões de meticais, uma miséria pelos nossos padrões, mas um luxo pelos padrões da lá.
Um professor ganhava menos do que isso.
E cada vez que abria um recrutamento, apareciam literalmente milhares de pessoas, em busca de um salário.

Você não sabe mesmo do que fala...

JV disse...

Eu trabalhei oito anos em Moçambique : provincia de Niassa ( Lichinga) , Quelimane e Maputo. O que o lidador diz é verdade. Mas não belisca 1mm sequer a qualidade do post. O Post está mesmo muito bom.

Anónimo disse...

"Tomaram, elas e eles (moçambican@s), que lá aparecesse alguém com um latifúndio e que lhes desse um trabalho que não os deixase à mercê da fome, se não chove, se vem bicho, se lhe roubam"

o-lidador


O alcunhado "O Lidador" (Gonçalo Mendes da Maia) foi um dos conquistadores do Alentejo aos Mouros.


No Séc. XXI este seu homónimo é capaz desta brilhante tirada sobre os benefícios da existência de latifundiários.


Diz que conhece bem Moçambique.



Mas pelos vistos já esqueceu tudo sobre o Alentejo: nos tempos (não tão longínquos assim) dos velhos latifundiários, os trabalhadores agrícolas, de facto, FICAVAM COMPLETAMENTE À MERCÊ DA FOME quando chovia.


Tomara o-lidador que esses tempos nunca mais voltem, nem cá nem em Moçambique. A revolta subsequente já não seria tão benigna como foi a de 74-75...

Unknown disse...

Caro anónimo,não diga asneiras.
Se quer um exemplo das consequências do fim dos "latifúndios", ponha os olhos logo ali ao lado, no país do Sr Mugabe.
Há 20 anos, enormes latifúndios, a produzir mais milho do que a Africa consumia. Fartura que era um louva a Deus.
Latifundiários fora e fominha de colar barriga.
(por acaso tb lá passei no período aureo da "reforma agrária", em 2001)

Se quer mais exemplos, olhe, nos EUA, apenas 2% da população trabalha na agricultura...e o pop corn não só não falta nos cinemas, como vai milho americano para....o Zimbabwe e Moçambique, veja lá.

Quanto à "Revolução", deixe-se de mitos. O 25 de Abril não foi da autoria de nenhum "revolucionário" da treta. Foram meia dúzia de capitães do QP, que estavam chateados por serem intercaçados com oficiais que não haviam passado pela Academia Militar.

Não foi essa a história que lhe contaram, é verdade, mas foi exactamente isso que se passou.
E, se quer a minha opinião, ainda bem!

Virgilio Costa disse...

Caro Senhor,

Deixando de fora as palhaçadas dos políticos, se o conselho europeu foi o que interpretou, então é válido e muito mais eficaz que qualquer outro. No entanto, para que seja aplicável e para que existam mercados essas coutadas têm de:
1. Garantir condições de competição (o que significa garantir justiça, direitos de propriedade e livre acesso aos mercados.
2. Resolver os problemas de governação que têm - encontram-se cheios de cleptocratas, que tal como cá não têm vida fora da política.
3. Tudo o resto é folclore para o flash e para a tv

No entanto, eu não creio que seja esse o resultado desta cimeira. Aquilo que acredito é que a Europa tenta competir com a China e com os EUA por influência na região, que vai contribuir ainda mais para a manutenção dos ditos cleptocratas no poder. A solução do problema africano tem de partir de dentro e não é com dinheiro europeu, americano ou chinês que se vai resolver como ficou provado pelas imensas quantias que já lá foram gastas nos últimos 40 anos.

Quanto ao proteccionismo da Europa... só prejudica o europeu.

Pedro Sales disse...

Vírgilio,

Não, o proteccionismo da Europa não prejudica só o europeu. Prejudica todos aqueles que, querendo competir e vender os seus produtos, são impedidos de entrar num mercado artificialmente "fechado". O problema da cimeira é esse. Os mesmos que são proteccionistas dentro de muros exigem que os mais fracos, e com menor capacidade de resistência, abram os e desregulem os seus mercados sem nenhuma compensação por isso, a não ser a promessa de que o comércio vai beneficiar as suas economias.

Virgilio Costa disse...

Caro Senhor Sales,

Concordo consigo na parte em que as barreiras ao comércio prejudicam o crescimento económico.

Com mercados regulados ou não, quem vende e produz tem de o fazer para o mercado. Se um dos mercados está fechado ou tem barreiras, então alteram-se os termos de troca e produzem-se produtos diferentes, num mix imperfeito.
O proteccionismo pode no muito curto prazo proteger um mercado, mas tal não é justificação suficiente para o caos económico em que se encontra o continente Africano.

Veja o acordo multifibras, a europa negociou há 20 anos com a china a liberalização do mercado. No dia que abriu a indústria têxtil europeia desapareceu e os europeus perceberam que durante 20 anos estiveram a pagar mais que aquilo que deviam por um determinado tipo de bens. Dito por outras palavras, o proteccionismo servia para que existisse uma transferência da sociedade como um todo (consumidores) para os fabricantes de texteis. A PAC é outro exemplo... no longo prazo é sempre o contribuinte que paga.

Eu creio que se as barreiras às importações alimentares não existissem na Europa estariamos todos a consumir frescos espanhóis e cereais americanos. Não vejo que os africanos, com excepção da África do Sul, pudessem ter uma palavra a dizer nesse comércio, como não têm nos outros. Não basta ter clima, é necessário ter estruturas de distribuição e acesso aos mercados.

jpt disse...

o comentador JV já o disse - a estrutura agrária moçambicana maioritária não comporta latifúndios, a esmagadora maioria da população rural vive explorando pequenas explorações familiares. Algumas tendências para a privatização da terra conduzem a algumas explorações médias (e até a alguns, poucos, grandes projectos como o referido) mas a figura do operário agrícola é algo praticamente inexistente.

com tudo isto essa nota desajustada À realidade socio-económica moçambicana (por desconhecimento, natural) não fere em nada a justeza do texto. Cristalina.

jpt disse...

já agora, o problema das barreiras proteccionistas na Europa liberal é que não permitem a criação das estruturas de comercialização e distribuição, nem apelam ao investimento financeiro e tecnológico (pois não será a actual estrutura produtiva e distributiva que acederá em massa ao mercado europeu)

Por outro, será essa abertura que impelirá aos tais "latifúndios" À expropriação, aos sem-terra, reforçando a urbanização forçada.

Virgilio Costa disse...

A estrutura de exploração de terra será a mais adequada ao desenvolvimento desses países e dos respectivos mercados.
Se são latifúndios ou minifúndios logo se verá. Quem tem fome não está preocupado com dialécticas sem sentido.
Já agora... onde é que os minifúndios são rentáveis?
Nós europeus somos mesmo maus; fechamos as nossas portas e não permitimos que um continente tenha estruturas produtivas e distributivas!
Não acha que um continente com 750 milhões de habitantes tem a dimensão para criar um mercado interno?
Crê que empresas inexistentes, incapazes de sobreviverem num mercado pouco sofisticado, seriam capazes de sobreviver num mercado sofisticado como o Europeu? Eu acredito na competição e não defendo a manutenção de barreiras ou a PAC, que é uma forma de tornar a vida mais cara aos europeus. No entanto, não creio que os grandes prejudicados por estas políticas sejam os africanos. Se assim fosse, têm agora uma oportunidade de provar que estou errado: a procura de produtos agricolas e de matérias primas está a fazer subir os preços. Os biocombustíveis fizeram disparar o preço da terra arável nos EUA, no Brasil e no mundo ocidental de forma generalizada. Se África tem potencial de produção agricola (que tem) e se o problema se deve apenas a barreiras, então agora está resolvido...

Pedro Sales disse...

Virgílio,

"Não acha que um continente com 750 milhões de habitantes tem a dimensão para criar um mercado interno? "

Não é isso que a Europa pensa. Exige-lhe, nas parcerias económicas, que desarme o seu mercado, ao mesmo tempo que tem o seu bem protegido. É por isso que o liberalismo é assimétrico,

Virgilio Costa disse...

Caro Senhor Sales,

Repito o que já disse: o proteccionismo europeu prejudica sobretudo os europeus. Prejudica também os seus parceiros comerciais e nesse sentido África.

Os 750 milhões são africanos... se abrirem o seu mercado ficarão melhor que se o protegerem, faça a Europa o que fizer. Pode não acreditar no que eu digo, mas isso é completamente indiferente pois mercado funciona mesmo que não se acredite nele.

Anónimo disse...

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