Cada um tem o "grande líder" que merece
Marques Mendes foi à Madeira tentar garantir a sua continuidade à frente do PSD. Apesar dos relatos indicarem que não bebeu na festa do Chão da Lagoa, passou decididamente a fronteira do mau gosto nos encómios ao Rei Momo da Madeira. Chamar a Jardim “o nosso grande líder”, ou dizer que lhe “faltava esta [festa] no currículo”, pode dar muitos votos no populismo desbragado que vão ser as directas laranja, mas compromete, seriamente, a sua legitimidade política como líder do maior partido da oposição.
Mas engraçado, engraçado foi ver como alguns do que justificaram o apoio do lidero do PSD à chantagem de Jardim com a lei do aborto na Madeira, agora tão chocados com os excessos linguísticos de Marques Mendes. Com mais ou menos cervejas e decibéis representam ambas a mesma realidade: o PSD está nas mãos de Jardim, que tem um terço dos votos do Congresso. Assim, na televisão, com o povo aos pulos e Jardim de copo na não, custa mais a digerir a algumas almas mais selectas e sensíveis, mas não se iludam, a substância é a mesma do resto do ano.
Há dois anos e meio - no dia a seguir à vitória de José Sócrates, e quando a imprensa estava invadida por textos de opinião a exigir o regresso dos quadros sérios e competentes à direcção do PSD -, escrevi uma entrada no Barnabé que dizia que "a má moeda é o PSD". Passado este tempo todo, e com pequenas alterações de personagens e situação, continua a resumir o que penso sobre a crise deste partido;
O PSD que Marques Mendes foi ontem abraçar à Madeira é o PSD que existe. Ponto. Não é a Junta de Salvação Nacional, nem, muito menos, a reserva moral de que o país tanto necessita. É o partido que parte para um congresso extraordinário com candidatos à liderança como Luís Filipe Menezes e Marques Mendes. É o partido que tem Miguel Macedo como secretário-geral e cujo líder parlamentar gasta o tempo no parlamento entre a apresentação de projectos para criar o dia do cão ou para saber quanto é que o Governo gasta nos cocktails dos congressos que organiza. É o partido que, à partida para o congresso, tem nas modalidades de pagamento de quotas o tema que divide as águas ideológicas entre as candidaturas.
Mesmo que existissem esses tais míticos quadros sérios e competentes para tomar o PSD em mãos, o que é duvidoso - pois têm o péssimo hábito de só aparecer no momento em que sabem que a vitória já está garantida - seriam sempre derrotados pelos milhares de autarcas ou de Jotas à espera de um emprego. Há muito que o partido é deles. Marques Mendes sabe-o, e é por isso que foi à Madeira abraçar Alberto João Jardim.
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