Mostrar mensagens com a etiqueta Sangue azul é outra coisa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sangue azul é outra coisa. Mostrar todas as mensagens

11 dezembro, 2007

Debate à Esquerda 1: Forma é conteúdo.

Apesar de ânimos exaltados e de promessas de divórcio, continuo a achar que o debate blogoesférico à esquerda tem pernas para andar. A partir da leitura do que até aqui foi escrito (aqui, ali, ali, ali, ali, ali, ali e mais não sei onde), gostava de assentar, ao longo dos próximos dias, três ou quatro ideias. A primeira ideia é muito simples e é esta: o debate à esquerda é um debate sobre conteúdos e um debate sobre formas: o como se diz importa tanto quanto aquilo que se quer dizer. E importa não por “polidez” mas sim porque quem não ambiciona atingir a autoridade religiosa de uma verdade canónica – e creio que ninguém neste debate o deverá ambicionar – não diz que fulano se “converteu”. Quem não tem respeito pela nobre autoridade da honradez militarista não diz que sicrano se “rendeu”. Quem não se dá bem com a autoridade política do dogmatismo doutrinário não diz que as posições de beltrano se “desviam”. Quem não gosta da autoridade biologicizante dos purismos genéticos não diz que as leituras daquele estão “contaminadas”. Quem não aceita a autoridade científica que faz da história uma cadeia de mecanismos não diz que o partido tomado por aqueloutro conduz “objectivamente” a isto ou aquilo. Quem não quer usufruir da autoridade do paternalista não diz que há ideias "ingénuas" e que alguém pensa assim ou assado porque tem menos de 30 anos de idade. Quem não precisa de autoridade psiquiátrica não diz que o outro está “desligado da realidade”.

11 novembro, 2007

Súbditos e cidadãos

A reacção às disparatadas declarações de Chavez na Cimeira Ibero-americana são mais curiosas do que o episódio em si. Meio mundo aproveitou para dizer que o homem é um ditador sem respeito por ninguém, a outra metade anda embevecida com a superioridade moral da monarquia. Que se dá ao respeito. Que pôs o "ditador" na ordem. Que, ao contrário dos nossos governantes, percebe o perigo mundial que Chavez representa.

Curiosamente, quem usa e abusa de ambos os argumentos são os mesmos que, normalmente, se apressam em encontrar públicas virtudes em Alberto João Jardim. Que é o povo que o elege e mantém no poder. Que é demagógico mas tem obra feita. Chavez não é um ditador. É um Alberto João com petróleo. Muito petróleo. É populista, fanfarrónico e tem um projecto de poder pessoal. Tem tudo para ser detestável, e é-o certamente. Mas o problema não é ele ser populista. Isso é o dia-a-dia da América Latina. O engulho é que o seu populismo não tem a casta correcta. Não tem as boas maneiras das famílias que, durante décadas, puseram e dispuseram da América Latina sem o mínimo esgar das boas consciências europeias. Se algué, tem dúvidas, veja-se a disparidade de tratamento entre Chavez e a extrema-direita dos gémeos polacos.

Convém lembrar que as horas infindáveis que Chavez passa na televisão pública a fazer propaganda, só encontram paralelo nas horas infindáveis que a oposição passa nos canais privados a fazer propaganda contra o Governo. Quer fazer um referendo para alterar a constituição e terminar com a limitação de mandatos. É errado, e preocupante, mas não deixa de ser irónico ver os mesmos que criticam o fim da limitação de mandatos desdobrarem-se em elogios ao "espírito democrático" de Juan Carlos. O seu cargo, vitalício, trouxe-o uma cegonha de Paris. E não me lembro quando é que se submeteu a qualquer sufrágio. "Porque não te calas?", disse, esquecendo-se que já lá vai o tempo em que as monarquias dispunham dos seus súbditos. Entretanto chegaram os cidadãos. A má educação de Chavez é mais brutal e menos polida, mas não é muito diferente da de Juan Carlos.