11 dezembro, 2007

Debate à Esquerda 1: Forma é conteúdo.

Apesar de ânimos exaltados e de promessas de divórcio, continuo a achar que o debate blogoesférico à esquerda tem pernas para andar. A partir da leitura do que até aqui foi escrito (aqui, ali, ali, ali, ali, ali, ali e mais não sei onde), gostava de assentar, ao longo dos próximos dias, três ou quatro ideias. A primeira ideia é muito simples e é esta: o debate à esquerda é um debate sobre conteúdos e um debate sobre formas: o como se diz importa tanto quanto aquilo que se quer dizer. E importa não por “polidez” mas sim porque quem não ambiciona atingir a autoridade religiosa de uma verdade canónica – e creio que ninguém neste debate o deverá ambicionar – não diz que fulano se “converteu”. Quem não tem respeito pela nobre autoridade da honradez militarista não diz que sicrano se “rendeu”. Quem não se dá bem com a autoridade política do dogmatismo doutrinário não diz que as posições de beltrano se “desviam”. Quem não gosta da autoridade biologicizante dos purismos genéticos não diz que as leituras daquele estão “contaminadas”. Quem não aceita a autoridade científica que faz da história uma cadeia de mecanismos não diz que o partido tomado por aqueloutro conduz “objectivamente” a isto ou aquilo. Quem não quer usufruir da autoridade do paternalista não diz que há ideias "ingénuas" e que alguém pensa assim ou assado porque tem menos de 30 anos de idade. Quem não precisa de autoridade psiquiátrica não diz que o outro está “desligado da realidade”.

8 comments:

Renato Carmo disse...

Ok, parece-me um bom 'ponto de ordem' para o debate. Espero que todos reconheçam o seu carapuço e que também arranjes uns quantos para ti.
Agora que siga o debate de ideias sem 'pessoalizações', que é isso que interessa.

Um abraço, Renato.

joshua disse...

Isso do debate de esquerda é uma treta daquelas!

Vai sonhando, Zezinho!

Miguel Madeira disse...

Seja como for, parece menos exaltado que o debate à direita, em que até já começaram a reveler os IPs uns dos outros.

Zé Neves disse...

renato, olha que eu estive a experimentar os carapuços todos antes de os colocar na montra e pareceu-me que todos eles me serviam, quiçá uns mais apertados e outros menos apertados, mas todos me serviam.
e olha que eu nada falei sobre a questão da "pessoalização". Ela veio à baila nos debates anteriores porque eu referi a condição profissional de alguém no contexto de um debate político. Mas repara que essa condição profissional - assessoria ministerial - é uma condição política.

abç, zn

Zé Neves disse...

eu queria dizer ao renato que os carapu�os n�o me serviam e n�o que os carapu�os me serviam. oops...

Renato Carmo disse...

Bem Zé, que lapso tão 'freudiano' :)

Zé Neves disse...

se calhar tens razão. mas gostava mesmo - para exercícios auto-críticos futuros - que dissesses que carapuço em concreto é que devo enfiar. abç

Unknown disse...

"o como se diz importa tanto quanto aquilo que se quer dizer."

Claro que é.
Daí a novilíngua.

Na verdade até importa mais.

Quando um dirigente do PC ou do BE fala "desta democracia", referem-se à odiosa "democracia burguesa", ou liberal.
É por isso que eles falam da "verdadeira democracia", a deles, claro.
O Sr Bernardino terá na cabeça as maravilhas de Pyong Yang e o Dr Louçã, provavelmente o sonho albanês do HOxa.

E com a boca cheia da "verdadeira democracia", lá se vão endrominando uns quantos milhares.

Quanto ao "que fazer", ora aí está um bom debate.
Qual é o "projecto " da esquerda?
Para além da retórica do "contra", das "causas fracturantes" , que modelo de sociedade a esquerda propõe?

Reviver o passado do socialismo real?

Uma montanha de açúcar que ainda está por inventar?

Sim, claro, palavras bonitas como "justiça social", "igualdade", "felicidade", etc,etc. mas concretamente como?

Nacionalizando a minha casa?
Expropriando a minha terra?
Extirpando o meu irredutível individualismo?
Proibindo-me de gastar o meu dinheiro como muito bem me apetecer?
Dissuadindo-me de ir comer um hamburguer se estiver para aí virado?

Ora explique lá..