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06 fevereiro, 2008

Foi você que falou em populismo?

Ontem foi dia de José Miguel Júdice na Sic. Começou a chamar "populista" e "gordo" a Marinho Pinto, comparando-o com Mussolini e Chavéz. Dada a salganhada ideológica, deduz-se que o termo de comparação é mesmo a proeminência da barriga. O tempo das ideologias já lá vai, pelo menos para Júdice, e nada como apontar as características físicas do adversário para marcar pontos na argumentação. Mas o melhor veio mais tarde, na edição da noite, onde tentou explicar como é que um restaurante de luxo, com uma localização ímpar no alto do parque mais central da capital, paga 500 euros de renda à câmara. Não explicou, é certo, mas nem por isso gostou de ver Teresa Caeiro lembrar que o ex-bastonário dos advogados é um dos sócios de tão suculento negócio. Uma"insinuação lamentável", disse, ainda por cima vinda de alguém que tem uma "relação íntima com um dos sócios". Nada como uma insinuação sobre a vida privada para combater uma crítica pública. Júdice anda preocupado com a figura que os outros andam a fazer. Devia olhar melhor para o seu exemplo e deixar as lições de moral, carregadas de insunuações, de lado. É que nem chega a ser populista. É só marialva.

31 dezembro, 2007

Portugal português

Amanhã entra em vigor uma lei que afecta milhões de portugueses e milhares de estabelecimentos comerciais, que têm que fazer avultados investimentos se quiserem ter espaço para fumadores, e ninguém se entende sobre os requisitos necessários para que a fiscalização reconheça a conformidade dos estabelecimentos à nova lei. Bem pode o Governo investir milhões nuns assépticos anúncios de promoção à costa oeste da Europa e esforçar-se para construir um país sem fumo e sem rissóis feitos em casa. O país não muda por decreto e, estava na cara, que uma lei com esta complexidade nunca estaria pronta a entrar em vigor na semana a seguir ao Natal e ano novo, com o país ainda a ressacar das compras e filhoses.

29 dezembro, 2007

O jogo das cadeiras

À primeira vista não se percebe muito bem o interesse que o PSD parece ter na escolha de um “dos seus” para a liderança do banco público. Se há dinâmica no nosso país que se revela mais forte do que o bloco central, é o bloco central dos interesses. E esse, como se sabe, começa e acaba no governo em exercício de funções. É o Governo que assina os cheques com os escritórios de advogados e empresas de consultoria. É o Governo que assina as lucrativas concessões que fazem andar e lucrar certo país que passa o resto da semana a criticar o Estado. Não é preciso ir muito longe para se perceber como funcionam as coisas. Fixemo-nos em António Mexia. Santanista desde pequenino, desde que foi nomeado por Sócrates para a EDP tem-se portado como o mais diligente dos socialistas. Mexias há muitos. O barulho de Menezes, que não hesita em vir pedir umas cunhas em público, não tem nada a ver com a importância de manter alguém da área da oposição na Caixa e no Banco de Portugal. Para manter o poder é preciso transmitir a imagem de que se tem algum para dividir e distribuir. Anima as hostes e mantém-nas unidas. Evita a deserção para o outro campo. Os governos vão cedendo, pontualmente. Porque é irrelevante para a sua gestão do poder e porque, no fundo, mantém a aparência e garante a estabilidadezinha com que se vão fazenda as coisas neste nosso país. E os negócios.

26 dezembro, 2007

Cosmopolitismo de fachada

Até há poucos dias nunca tinha ouvido falar no nome. Parece que Cristina Areia é uma das vedetas das telenovelas juvenis da TVI. Talvez por isso foi convidada pela junta de freguesia para abrilhantar a festa de Natal das escolas de Alfama. A sua tarefa era simples. Anunciar o nome das crianças à medida que iam subindo ao palco receber umas prendas. Mas a Cristina é uma rapariga sensível e tradicionalista. Há nomes que lhe fazem espécie. A Bárbara Reis, no Público do passado sábado, conta como, em pouco tempo, a menina conseguiu insultar quase todas as pessoas presentes na festa:

- Hania! Ai credo, o que é isto? Ah, é indiana...Pronto, está bem.
- João bin[qualquer coisa]. Bin?! Será primo do Bin Laden. Cuidado, se calhar é melhor irmos embora.

- Ramona! Mas o que é se passa em Alfama? Que nomes esquisitos! Dantes era só Maria de Lourdes e Anas Cristinas, não era?

- Ana! Um nome normal, viva a tradição, viva!
- Regiane. O que passou pela cabeça destes pais?

Neste último ponto teve razão. O que passou pela cabeça de dezenas de pais para não se levantarem e interromperem este espectáculo degradante? Neste país dos brandos costumes, parece que os familiares das Anas Cristinas acham normal que alguém insulte e envergonhe em público uma criança porque não se chama Maria Albertina. O que não deve ter passado pela cabeça da Cristina Areia é que muitos deles nasceram no nosso país e são tão portugueses quanto ela, mas isso para o caso até é indiferente. Mais revelador é que esta vedeta da televisão é a voz de um país que se diz tolerante mas que se conforma com estas gratuitas demonstrações de xenofobia. Uma voz que tem autoridade e impunidade porque, à sua volta, todos se calam e encolhem. Os pais das Anas ou porque tiveram vergonha ou porque até acharam piada. Os outros, os pais das Ramonas e das Regianes é que me preocupa. Porque o seu silêncio é a mais violenta demonstração de como funciona o racismo dos pequenos gestos do dia-a-dia e de como este está interiorizado pelas suas vítimas. Ninguém se levanta porque não é suposto protestarmos numa casa que não é a nossa. É assim este Portugal natalício. Andamos o ano todo a tentar vender lá fora uma imagem de cosmopolitismo e modernidade, para, cá dentro, percebermos que o cosmopolistmo que aceitamos e toleramos se esgota nos Antónios, Marias e Silvas. Já agora, alguém podia explicar à Cristina que não se deve gozar com o nome dos outros. É que alguém pode olhar para o dela e reparar que Areias é nome de camelo. O que explica alguma coisa.

23 dezembro, 2007

"Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades"

A Starbucks vai chegar a Portugal no próximo ano. Prometem revolucionar os cafés do país, oferecendo um espaço amplo para os clientes conversarem, lerem ou acederem à net na rede sem fios dos seus estabelecimentos. É o sinal dos tempos. Depois de, há pouco mais de 15 anos, termos assistido ao encerramento dos principais cafés do país, onde se podia conversar, estudar e ler o jornal sem ser importunado pelos empregados, vêm agora as grandes cadeias internacionais embrulhar o conceito e apresentar a mesma proposta como uma grande inovação.

Faz apenas dezasseis anos que a McDonalds instalou o seu primeiro restaurante em Lisboa nas instalações do antigo café Colombo. O local não podia ser mais simbólico. O país estava com pressa de modernidade e não tinha mais tempo para se sentar no café a ler o jornal e a conversar. Um a um, vários se lhe seguiram. O Café Portugal e a Chave de Ouro, em Lisboa, ou o Café Imperial na Praça da Liberdade, são apenas alguns exemplos. Agora, basta um breve passeio pela baixa de Lisboa e é impossível não tropeçarmos num qualquer chill out café ou lounge café . Locais onde se pode estar com tempo e com calma. Nada contra. Mas não deixa de ser um exemplar retrato da forma como a economia global nos embrulha a modernidade, reescrevendo a história e vendendo o velho como uma novidade absoluta. Não se apropria apenas das fachadas e do espaço físico. Resgata a memória e a língua. É como se nada tivesse existido antes destes espaços normalizados, estandardizados e assépticos. O velho é novo. O novo é velho. A novílingua passou por aqui. E esqueceu-se do tabaco, claro.

* título do post retirado da letra d´O tempo não pára, de Cazuza.

20 dezembro, 2007

Retratos da costa ocidental da Europa

De vez em quando o país acorda do torpor em que se encontra e vê na televisão imagens que se julgavam esquecidas. Faltam as palavras para descrever a barbaridade e crueldade de um suinicultor que abandona centenas de porcos à sua sorte, condenando-os a morrerem de sede e de fome, não hesitando mesmo em colocar em risco a saúde das populações vizinhas. Um dia depois da ASAE emitir um comunicado sobre a higiene das colheres de pau, sabemos que uma suinicultura que funcionava ilegalmente há sete anos nunca conheceu qualquer entrave à comercialização para consumoda carne dos seus animais. As autoridades competentes conheciam o caso e nada fizeram porque a suinicultura era ilegal! É normal. A lei que deveria proteger os direitos dos animais, o PL 92/95, está há 12 anos à espera de regulamentação governamental, criando um vazio legal que permite que actos como este permaneçam impunes. É mesmo o triunfo dos porcos.

Portugal no seu melhor

A Direcção Geral de Veterinária sabia, há sete anos, que a suinicultura em Alcácer do Sal estava a funcionar ilegalmente. Quando questionada sobre o porquê do tardio encerramento da exploração: “Nunca foi mandada fechar porque, oficialmente, nunca abriu.” É uma metáfora certeira sobre a forma como vai funcionando o país. Se tiver um negócio e não quiser ser importunado pelas autoridades permaneça na ilegalidade.

19 novembro, 2007

A coutada do ignorante latino

O despedimento de um cozinheiro infectado com HIV, reconhecido pelo Tribunal da Relação, vem confirmar como a mentalidade da “coutada do macho latino” continua bem presente no interior dos tribunais portugueses. Como já tinha sido confirmado pelos pareceres científicos solicitados pelo tribunal, e é reiterado por todos os médicos contactados pela imprensa, a concentração de vírus existente no suor, lágrimas e saliva impossibilita a transmissão do mesmo nessas condições. Não existe, aliás, nenhum caso conhecido de contaminação nas circunstâncias referidas pelo acórdão. Ao contrário do que afirmam os juízes, este acórdão não protege a saúde pública. Põe-na em causa. Naturalmente, se se generaliza a convicção de que o destino de um seropositivo é o desemprego, o passo seguinte é andar toda a gente a esconder a sua ficha clínica da entidade patronal. O resultado é o aumento da insegurança, nunca o contrário. Costuma ser esse o preço da ignorância.

17 novembro, 2007

Portugal kleenex

A ASAE continua a sua cruzada para a criação de um novo país, asséptico e cumpridor dos "bons costumes". Ontem, encerraram a Ginginha do Rossio. Dizem que não cumpria as normas higiénicas. Claro que não cumpria, isso já toda a gente sabia. Mas, e isto pode parecer estranho a estes novos beatos da virtude, aquele chão que se colava aos pés fazia parte da imagem da casa. Isso, e a melhor ginginha do país. Era por isso que estava sempre cheia e fazia parte dos roteiros turísticos da capital. Tinha alma. Depois de já terem acabado com as castanhas assadas embaladas nas páginas amarelas e a bola de berlim na praia, fecharam a ginginha.

Este novo Portugal, das novas oportunidades, do TGV e dos computadores portáteis para toda a gente, não suporta as imagens simbólicas do velho país "atrasado" e periférico. Como não consegue mudar o povo, que continua a beber minis e a comer couratos à volta dos estádios em dia de jogo, inventou a ASAE. Uma brigada dos bons costumes para a construção do Portugal Kleenex. Continuem o trabalho. Ali mesmo ao lado da ginginha, podem acabar com a casa dos chapéus. E não se esqueçam do pastel de nata, essa bomba calórica que tão má imagem dá do país no estrangeiro.

16 novembro, 2007

O glorioso caminho para a novilíngua socialista

Vieira da Silva parece ter atingido o ponto em que o seu discurso deixou de ser inteligível, um processo também conhecido como o síndroma Manuel Pinho e Mário Lino. Hoje, reagindo às notícias que dão conta que o desemprego permaneceu nos 7,9% no último trimestre, congratulou-se com os números, dizendo que "este ano a taxa de desemprego não cresceu do segundo para o terceiro trimestre. É um bom sinal". O bom sinal perscrutado por Vieira da Silva corresponde à estabilização do desemprego no nível mais elevado de sempre e na terceira taxa mais elevada da zona euro. As suas declarações revelam um notável esforço para torturar os números até eles cederem, pelo cansaço, ao notável esforço para criar uma novilíngua socialista. Vejamos.

  • Só "no terceiro trimestre, foram criados mais 45 mil postos de trabalho", disse Vieira da Silva. É verdade. Mas, se foram criados 45 mil postos de trabalho e aumentou o número absoluto de desempregados, isso só quer dizer que a criação de postos de trabalho não responde à entrada de mais pessoas na população activa.
  • O desemprego estabilizou, garante o ministro. Meia verdade. Do segundo para o terceiro trimestre é verdade. Mas, em relação ao mesmo período do ano passado, que é o que conta, aumentou mais 0,5%. Não é preciso ter andado numa faculdade de economia para perceber que as variações sazonais de emprego são pouco importantes. A taxa homóloga é o indicador mais relevante e esse, claro, foi um número que Vieira da Silva nunca referiu. O que importa não é a queda, mas a forma como se aterra.
O ministro reconheceu que o problema do desemprego ainda não está resolvido. Ainda bem que reconhece. Há 444 400 boas razões para que assim proceda.

01 novembro, 2007

É assumir o risco





Fotos de cabelinho à paulo bento
Ver também riscoaomeioexatamentameioepamesmomeio.


Aqui há dias, enquanto aproveitava um telefonema para exercitar a minha veia Lusitana - queixava-me portanto - ouvi uma coisa curiosa. Como resposta ao meu lamento pela falta de tempo para cortar o cabelo obtive: 'desde que não andes com um cabelinho à Paulo Bento'.

Como emigrante a minha interacção com a figura de Paulo Bento é diária mas distante. Mal me lembro de quando jogava à bola, não estava em Portugal quando entrou para treinador e nunca vi nenhum jogo do Sporting desde então. Fico-me pela imprensa desportiva online que consumo aqui e ali, sempre intermitente e de frases curtas. Aí, à distância e filtrado, Paulo Bento não parece diferir de outros: os soundbytes da ordem ao sabor dos resultados. E ninguém fez referência ao cabelinho, nunca.

Mas quando me disseram 'cabelinho à Paulo Bento', soou bem, natural, Luso mesmo. Mas como é que eu me esqueci que o 'olha práquele cabelinho' - seguido de arroto - faz todo o sentido? O inho que serve de escala para tudo. O escárnio constante, exacto e cortante, ideal para passar o tempo entre a jola e a cuspidela conjunta de cascas de tremoços. Pensando bem, o escárnio em inho é Portugal-redux. Desde que não vá aterrar no sapato do Senhor Doutor, serve para passar a tarde e mantém a discussão no acessório que o essencial é triste demais.

Adenda: Ou complicado demais. O pessoal que coma tremoços tailandeses e beba cerveja pelo copo de plástico comprado no LIDL e está bom de ver que isso é progresso não-referendável. Envolve mistérios que não podemos compreender. E como é sabido não é possível referendar todas as maravilhas do Senhor. Portanto, não precisamos de ouvir, não precisamos de explicar, não precisamos de argumentar. O bloco central está cá é para decidir e o resto é demagogia e gentes de morais dúbios. Só falta avisar com fumata bianca.

É o que temos feito nas últimas décadas. É o que vamos continuar a fazer. Certo? ... E de repente Paulo Bento começa a parecer um tópico mais feliz de conversa. O ciclo eterno continua, num país perto de si.