16 novembro, 2007

O glorioso caminho para a novilíngua socialista

Vieira da Silva parece ter atingido o ponto em que o seu discurso deixou de ser inteligível, um processo também conhecido como o síndroma Manuel Pinho e Mário Lino. Hoje, reagindo às notícias que dão conta que o desemprego permaneceu nos 7,9% no último trimestre, congratulou-se com os números, dizendo que "este ano a taxa de desemprego não cresceu do segundo para o terceiro trimestre. É um bom sinal". O bom sinal perscrutado por Vieira da Silva corresponde à estabilização do desemprego no nível mais elevado de sempre e na terceira taxa mais elevada da zona euro. As suas declarações revelam um notável esforço para torturar os números até eles cederem, pelo cansaço, ao notável esforço para criar uma novilíngua socialista. Vejamos.

  • Só "no terceiro trimestre, foram criados mais 45 mil postos de trabalho", disse Vieira da Silva. É verdade. Mas, se foram criados 45 mil postos de trabalho e aumentou o número absoluto de desempregados, isso só quer dizer que a criação de postos de trabalho não responde à entrada de mais pessoas na população activa.
  • O desemprego estabilizou, garante o ministro. Meia verdade. Do segundo para o terceiro trimestre é verdade. Mas, em relação ao mesmo período do ano passado, que é o que conta, aumentou mais 0,5%. Não é preciso ter andado numa faculdade de economia para perceber que as variações sazonais de emprego são pouco importantes. A taxa homóloga é o indicador mais relevante e esse, claro, foi um número que Vieira da Silva nunca referiu. O que importa não é a queda, mas a forma como se aterra.
O ministro reconheceu que o problema do desemprego ainda não está resolvido. Ainda bem que reconhece. Há 444 400 boas razões para que assim proceda.

6 comments:

Nuno disse...

Sou leitor regular do seu blog q aprecio bastante!
Pela teor do post parece-me q tem a solução para o problema! O q sugere q o governo faça para alterar esta situação dramática? Muitos dos desempregados são pessoas q infelizmente não irão conseguir voltar ao mercado de trabalho sem uma requalificação. Alguns não têm capacidade para serem requalificados e o seu futuro é negro. Nenhum governo ou empresa irá conseguir aproveitar muitas destas pessoas. Eu apenas vejo uma solução q são prestações sociais, para as quais não me importo que isso seja feito à custa de aumentos de impostos!

Pedro Sales disse...

Caro Nuno,

Bastava que o ministro não contorcesse os números para evitar reconhecer o óbvio: o desemprego está a aumentar. Nem vale a pena lembrar que o actual primeiro-ministro, na campanha eleitoral, disse que um desemprego de 7% era "a marca de uma governação falhada". Agora, com os mesmos números do Eusostat, já vai nos 8,3%.

Quanto à solução, como é óvio, não tenho nenhuma varinha mágica e até entendo que o governo também não. Uma solução é a requalificação das pessoas, claro. Não é fácil, até porque a economia não está para aí muito virada - a maioria dos empresários continua a preferir o modelo baixo salário para os trabalhadores-lucro para espatifar em carros de luxo -, não apostando na inovação e sentido de risco.

Anónimo disse...

Esta magia com os numeros vai permitir ao socas afirmar que a promessa dos 150000 postos de trabalho,foi cumprida.

Samir Machel disse...

Pode-se não ter varinha mágica, mas condenar as acções ditas requalificantes e que tantas vezes são apenas formas de retirar as pessoas do número oficial de desempregados e distribuir uns fundos europeus...

Um governo dito socialista que parece ter dificuldade na conciliação da política do marketing com a (eventual) política de emprego.

samuel disse...

Caro Nuno (com licença dos donos da casa)

E desde quando para se poder dizer que um ovo está podre é obrigatório ser capaz de pôr um ovo fresco?
Também não tenho, infelizmente, uma solução, mas para melhorar o clima em que o país enfrenta o problema, seria uma grande ajuda os nossos queridos governantes não fazerem malabarismos baratos com os números, darem melhores exemplos e sobretudo não mentirem tão descaradamente... entre outras coisas.

Anónimo disse...

Serà isto o tal "ingês tècnico"?