02 agosto, 2007

Ainda Lisboa

No dia seguinte às eleições intercalares de Lisboa, escrevi aqui que, face aos resultados, o cenário mais fácil para António Costa seria governar em minoria, procurando aqui e ali os votos necessários para governar. Não foi isso que aconteceu. Quis um acordo com as esquerdas, confirmando, aliás, o sentido de voto dos lisboetas que deram uma votação esmagadora a estas forças políticas. Não foi possível, soube-se ontem à noite, com a recusa de Helena Roseta. Depois de ter apelado, quando se candidatou, a uma união de todas as esquerdas, Roseta disse ontem que não aceita lugares em troca de compromissos. Curiosamente, faz essas declarações ao mesmo tempo que garante que não aceitou porque não lhe ofereceram pelouros e apenas um programa para acrescentar as alterações que entendesse e assinar. Vá-se lá saber.

Restou Sá Fernandes, que assinou um acordo com António Costa. Não garante a maioria, mas garante as condições para o que pode ser uma boa governação da capital, afastando o PS da pesca à linha com Carmona ou Negrão. Em primeiro lugar, o acordo ontem divulgado exclui a construção na frente ribeirinha da cidade e garante a implementação do Plano Verde do arquitecto Ribeiro Teles; aposta na reabilitação em vez da construção e abre as portas a uma quota de 25% das novas casas a preços controlados. Este último ponto, aliás, tem sido objecto da mais demagógica das oposições. Os construtores civis dizem que faz lembrar Havana, esquecendo-se que esta é uma proposta decalcada da legislação que vigora na Catalunha, e quotas de casas a preços controlados há muito que existem nos EUA ou Paris. Mas essas até foram as melhores notícias para António Costa. Ter os patos bravos na televisão a dizer mal de um executivo camarário, no dia em que este toma posse, dá quase tanto prestígio e apoio popular à câmara como uma greve de juízes ao governo. Aguardemos, pois, que os próximos dois anos prometem.

7 comments:

Anónimo disse...

Bravo!


De notar que H. Roseta propunha inicialmente, como objectivo político basilar da sua candidatura, uma união de todas as forças de Esquerda! Como diz a minha Mãe, "bem prega o Frei Tomás"...


Agora ficará "entalada" entre a governação da Cidade, em que não participará (quanto a mim FELIZMENTE...), e a Oposição de Direita (afinal de contas, as suas origens ideológicas!), em defesa de nada e obviamente a caminho de coisa nenhuma...


E eis o crepúsculo de mais uma "estrela" política serôdia ainda remanescente do quadro societal e mental do Séc. XX...


A. das Neves Castanho.

Anónimo disse...

O BE tem de ter oportunidade de experimentar o poder para mostrar o que vale, e provavelmente crescer se surtir efeitos.

O BE mostrou ousadia o mais fácil seria ficar de fora e criticar, criticar sempre.

Chegou a hora de mostrar se o BE sabe resolver problemas.

Anónimo disse...

O Bloco meteu-se foi numa alhada sem a mínima necessidade, em vez de com cabeça fria saber esperar e construir uma alternativa à esquerda, não... No momento em que o PS mais precisava recebe este balão de oxigénio... Este é o primeiro erro estratégico que o Bloco comete... Mas se calhar o problema é mesmo esse, não há estratégia, apenas táctica... Como diria o outro "foi assim que a alemanha perdeu a guerra"...

Para mais convido-vos a verem o meu Blog "Mundo em Guerra" www.mundoemguerra.blogspot.com

Ant.º das Neves Castanho disse...

Quem não arrisca, não petisca! Claro que Sá Fernandes corre riscos e seria muito mais cómodo permanecer na sua posição de "vigilante impoluto", mas com esta atitude demonstra, pelo menos, duas coisas:

1 - Que não é um mero "bota-abaixo", como toda a Direita o acusava (a começar pela própria Helena Roseta);


2 - Que o B. E. pode um dia vir a integrar o (impropriamente) chamado "arco governativo", primeiro nas Autarquias, depois nas Regiões (esperamos) e, por fim, no próprio Governo, pois um dos principais bloqueios da política portuguesa é os Partidos da Direita poderem governar em coligação e os de Esquerda não!

Anónimo disse...

Foi uma péssima decisão de costa e nada tem a ver com sá fernandes. Quando se fazem coligações, cede-se parte do poder em troca de uma maioria estável, ora António Costa cedeu o poder a troco de coisa nenhuma. Mais um acordo destes que seria dinâmico nunca poderia começar com Sá Fernandes, mas sim com Helena Roseta, porque a escolha de Sá Fernandes excluía à partida o PC (convenhamos que na situação em que o PS está e tendo já excluído a "direita", começam a faltar parceiros)e pela mesma rezão não poderia começar com o PC. O acordo base deveria ter sido negociado com a H. Roseta. Temo que a Câmara vá ficar parada mais 2 anos e ou eu muito me engano, ou então antónio Costa deu prova de uma grande inépcia política

zero de conduta disse...

Caro anónimo,

António Costa, segundo vem em todos os jornais e é confirmado pela própria Roseta, tentou negociar um acordo a três. A Roseta é que não aceitou e, ao contrário de Sá Fernandes, nunca fez nenhuma proposta para discutir um programa mínimo comum. Fez mal, principalmente depois de se ter candidato dizendo que defendia uma convergência de todas as esquerdas.

Anónimo disse...

Um partido, dois programas: um antes, outro depois da campanha eleitoral. Assim são os Bés.