27 setembro, 2007

Not so fast

O Francisco Almeida Leite defende que, perante a crise de legitimidade resultante das eleições do PSD, a solução é “fechar aquilo e depois abrir de novo, com novas ideias, outras gentes e um programa mais ambicioso”. Como aconteceu em França, onde o RPR se "reconverteu e transfigurou" na UMP de Nicolas Sarkozy. A ideia pode parecer atraente, e até nem é nova, mas esbarra num pequeno problema que me parece que o Francisco não está a considerar devidamente. O sistema político português é praticamente inamovível. Nos últimos 30 anos, apenas surgiram dois novos partidos, o PRD e o Bloco, e o primeiro foi um fogacho. Manuel Monteiro, que no PP valia eleitoralmente o dobro de Paulo Portas, está condenado a resultados abaixo do 1% no PND. Já que falamos no PP vale a pena ver como, depois de prometer uma nova agenda e uma revisão programática, o partido continua dependente das velhas bandeiras de sempre: a segurança e a autoridade.

Ou muito me engano, ou ninguém vai sair do PSD para fazer um novo partido e refundar a direita. Os nomes anunciados pelo Francisco, à excepção de Rui Rio, ou não têm dimensão para liderar um partido ou estão mais interessados na sua vida profissional e empresarial. Não é por acaso. Grande parte dos “barões” do PSD já não precisa do seu partido para cumprir aquele que tem sido o seu papel histórico: agir como porta-voz dos interesses da classe empresarial e da elite económica nacional. Esse papel está, em grande parte, esgotado. O PS, com José Sócrates, invadiu o seu espaço ideológico e cumpre o seu programa. Não deixa de ser sintomático verificar que, hoje, é no espaço de iniciativas como o Compromisso Portugal e das associações empresariais que se mexe grande parte da elite laranja.

O PSD que nós vemos nesta desgraçada campanha é o PSD que existe. E não me parece que vá desaparecer para dar espaço a novos personagens, como acredita o Pedro Correia. Não há grande espaço para uma alternativa, a não ser a assumpção de um programa genuinamente liberal. Uma impossibilidade num país conservador, pobre e desigual como o nosso, como até Paulo Portas reconheceu depois de sair do governo e descobriu que "Portugal não é Chicago". O PSD vai seguir o seu caminho, entregue a actores secundários, enquanto não vislumbrar o tempo para tomar o poder (que deve demorar). O seu termo de comparação não é a refundação francesa, mas a travessia do deserto dos conservadores britânicos.

1 comments:

L. Rodrigues disse...

Eu tenho para mim que eles deviam ir recuperar o programa inicial de 1975 e ultrapassar o PS pela esquerda. Isso é que era...