06 outubro, 2007

Lamentável

A capa do último número da Atlântico é tão excessiva e lamentável que não me quis pronunciar até ler o artigo que lhe dá origem. Com uma chamada de capa a dizer “Hell Che”, ainda estava à espera de encontrar alguma revelação bombástica sobre o argentino. Mas não. Ao longo das 4 páginas do artigo, Rui Ramos desfila os argumentos já usados, por exemplo, no “Livro negro do comunismo”. A implosão do modelo económico imposto por Guevara em Cuba, os fuzilamentos, a indiferença perante as verdadeiras preocupações das pessoas, a frieza e a “ética clerical”. Está longe de fazer do homem um anjo, que nunca foi, mas será que é só isto que Rui Ramos e o corpo editorial da Atlântico têm para dizer de Hitler?

O regime nazi não foi uma ditadura como as outras, da mesma forma que Hitler não foi um ditador como os outros. Não deveria ser preciso, em 2007, lembrar a “solução final para a questão judaica” e o Holocausto. O extermínio de tudo o que fosse considerado degenerante para a raça ariana, como os povos "inferiores", a homossexualidade ou a divergência ideológica, torna o nazismo um regime inominável. A este nível, talvez só Pol Pot. O que choca na capa não é a desmontagem da iconografia mítica de Che Guevara, perante a qual não poderia ficar mais indiferente, mas a bonomia com que se desvaloriza e relativiza a figura de Hitler.

É tão ridículo chamar fascista a tudo o que mexe, de Santana Lopes a cada medida do governo socialista, como desvalorizar o lastro simbólico e real do nazismo. O efeito é o mesmo, o branqueamento do verdadeiro fascismo ou nazismo. A sua normalização. Não deixa de ser sintomático, aliás, que esta capa tenha sido elaborada precisamente pelos que mais se indignaram com as alegadas comparações entre os métodos de Bush e Hitler feitas por Freitas do Amaral. Como se vê, a sua indignação era puramente instrumental. O que os preocupava era defender Bush, porque Hitler até é um termo de comparação aceitável quando lhes convém. Acredito que se tenham divertido imenso com a capa. Só que as imagens transmitem uma mensagem. Não são neutras. Esta não é inocente. É um vómito, para ser mais preciso.

14 comments:

Carlos Monteiro disse...

Inteiramente de acordo e subscrevo cada palavra! Para estes "liberais" os crimes de Direita são relativos se servirem determinados objectivos. É assim com esta capa, como o meu caro explicou, e é assim quando se trata de defender Pinochet que até, veja bem, fez do Chile um pais "liberal", como se em política, como na vida, o caminho não tivesse mais importância que o destino final.

São um vómito sim.

João Ricardo Vasconcelos disse...

Também não vejo mal em se brincar com ícones. A foto de Che, com a mercantilização que sofreu, é um alvo natural. Mas reflectir na mesma algum tipo de paralelismo com Hitler é descer de nível de forma despropositada.

Mas vejamos pelo outro lado: a redacção da Atlântico mostra assim a seriedade intelectual que a envolve. Os leitores que tirem as suas conclusões...

Anónimo disse...

Hanlon's razor: Never attribute to malice that which can be adequately explained by stupidity.

http://en.wikipedia.org/wiki/Hanlon%27s_razor

Não tendo aplicação directa ao assunto tratado, a lei de Godwin é ainda assim interessante:

As an online discussion grows longer, the probability of a comparison involving Nazis or Hitler approaches one.

http://en.wikipedia.org/wiki/Godwin%27s_Law

Anónimo disse...

vergonhoso em todos os sentidos. Num sentido, só ignorantes (alguns até chegam a ser puros grunhos) hoje em dia nutrem simpatia pelo que foi o nazismo. Noutro sentido, a fotografia do Che chegava, não é preciso um bigode ridículo para mostrar o crime que foi (é) o regime comunista por onde passou (passa)

Hugo

Anónimo disse...

O bigode à Hitler é execrável.

Anónimo disse...

"Está longe de fazer do homem um anjo, que nunca foi, mas será que é só isto que Rui Ramos e o corpo editorial da Atlântico têm para dizer de Hitler?"

Até hoje ainda não vi ninguém com T-Shirts do Hitler, mas já vi muitos com T-Shirts do Che Guevara. Quero com isto dizer, que deve haver muito menos gente de direita a simpatizar com o Hitler, do que pessoas de esquerda a simpatizar com o Che Guevara. A esquerda é que parece passar a vida a relativizar os crimes dos seus ídolos. Não conheço nenhum país que tenha homenageado Hilter, mas parece que o Brazil vai homenagear Che Guevara.

Não me parece que seja preciso dizer alguma coisa sobre o Hitler, desde que pequeno, que ouço referências aos crimes que ele cometeu, certamente bem mais graves do que os cometidos por Che Guevara. Mas no caso do Che Guevara, foi a primeira vez que vi uma referência ao mesmo, que não o tratava como um herói. Não li o artigo da Atlântico, mas independentemente daquilo que ele diz, contribuiu para que eu conhecesse melhor Che Guevara. Provavelmente o artigo exagera, mas talvez seja um exagero necessário, visto tratar-se de uma personagem idolatrada por tanta gente (que se o conhecesse um pouco melhor, talvez pensasse de maneira diferente).

Anónimo disse...

Quem lê o blog e a revista (faço-o às vezes, por necessidade de estar informado em diversos quadrantes) sabe que a natriz ética do pessoal "Atlântico" está mais próxima do nazismo do que de qualquer etiqueta "liberal" que tentam colar na testa. Fica-lhes tão absurda essa colagem como o bigode "mosca" na face de Guevara.

JSA disse...

Não pude ler o artigo, por isso ainda não tinha escrito nada sobre o assunto. É bom ver Pedro, que o fizeste tu e que desmontaste este assunto.

Caro Rui Carlos Gonçalves, há várias razões para essa história das t-shirts. Primeiro, Alberto Korda nunca fotografou Hitler. Parece-me óbvio que sem aquela fotografia específica, Guevara não teria sido o ícone que foi. Depois porque h´qa realmente uma diferença de dimensão. Che Guevara conseguiu vencer uma das suas batalhas (mesmo que não fosse realmente "sua") e foi morto em luta por objectivos que, no papel e na retórica, eram correctos. Hitler devastou um continente, programou a morte sistemática de milhões e fez tudo isso em nome de uma ideologia de dominância, que nem sequer no papel ficaria bem (para quem não fosse "ariano").

Che não era flor que se cheirasse, é verdade, mas a comparação é odiosa. Pelo branqueamento que faz de Hitler.

JSA disse...

Já agora, seria interessante desafiar os "atlânticos" a fazerem uma capa semelhante com a cara de Pinochet. Fariam? Náááááá......

tacci disse...

"Até hoje ainda não vi ninguém com T-Sirts do Hitler..."

Mas, infelizmente, há quem as use. Negras, com a cara do fulano e umas suásticas a decorar o conjunto.

Anónimo disse...

Talvez se aparecesse o Che com um bigodinho à Estaline, já não ficasse tão escandalizado.

Anónimo disse...

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