24 novembro, 2007

O telelixo pode matar


Svetlana é a mais recente vítima da violência doméstica em Espanha. Tendo aceite participar numa espécie de Fiel ou Infiel (o Diário de Patrícia, no canal Antena3), julgava que ia encontrar um desconhecido em directo. O que esta jovem russa não sabia, porque a produção nunca lhe disse, foi que quem iria encontrar no programa para a pedir em casamento era o seu ex-noivo. O mesmo que já tinha denunciado às autoridades pelos maus-tratos que lhe infligia e que, por isso mesmo, tinha cumprido 11 meses de pena de prisão. Depois de ter recusado o pedido de casamento, em directo, foi assassinada pelo seu ex-noivo.

O assunto está a agitar Espanha, onde uma recente sentença judicial reduziu a pena de um agressor que apunhalou a mulher depois deste ter alegado que se tinha sentido humilhado ao ver a mulher no mesmo programa. Em resposta às crescentes pressões para a regulação destes reality shows, os outros canais televisivos já disseram estar do lado da Antena 3, mostrando que serão sempre incapazes de se autoregular e parar enquanto sentirem que a morbidez e o apetite pelo “caso da vida” pode valer umas décimas de audiência extra. As pessoas vão porque querem, dizem os defensores do programa. Certo. Mas uma coisa é pensar ser surpreendida por um desconhecido num estúdio de televisão. Outra, bem diferente, é encontrar a pessoa que a agredia sistematicamente e que já cumprido pena por isso.

Será sempre possível encontrar alguém disposto a humilhar-se, e a expor a sua intimidade perante milhões de pessoas, porque é a única forma de aceder ao panteão dos “famosos”. Mas isso não basta. As televisões precisam que a surpresa seja real. Que exista fúria e decepção, sem pensar que o despeito e a humilhação pode ter consequências imprevisíveis. A escalada do telelixo é assim. O espectador não exige só cumplicidade e viver uma vida de substituição. Quer adrenalina e emoções novas e a produção destes programas manipula e mente até onde for necessário para dar o que o público quer e exige. Pouco importa que, terminado o programa, existam duas pessoas que têm que viver a sua vida. O que acontece depois de desligadas as luzes do estúdio não dá audiências. Se alguma coisa acontecer é só mais um "caso da vida", onde, com toda a certeza, ainda vai a câmara da noticiário do mesmo canal registar a comoção para encher o noticiário da noite.

A violência doméstica é um dos principais temas em Espanha. Só este ano, já foram assassinadas 69 mulheres pelos seus maridos ou companheiros. Mas, se em Espanha o assunto é discutido e merece ampla cobertura mediática, o que dizer do nosso país onde, com uma população quatro vezes menor, só no ano passado foram mortas 39 mulheres. Os portugueses só acreditam que Portugal é um país de brandos costumes porque não discutem e não questionam os seus costumes.

4 comments:

Anónimo disse...

Para mim, é igualmente triste e revoltante ler no Expresso deste sábado que certa menina alvo de disputa paternal soube através da televisão com quem é que ia passar o ano novo. É nojento como se destroem vidas para entertenimento alheio. Não sei de quem. A mim só me entristece profundamente.

Rui Fernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Vasco Neto disse...

caro pedro,

belíssimo post.
bebi aqui, para escrever o que me parece lhe irá interessar.
afinal, visto por dentro é assim

http://setevidascomoosgatos.blogspot.com/2007/11/morte-das-vidas-reais.html

abraço

Anónimo disse...

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