Debate à Esquerda 2: Que Perguntas?
A diferença entre as esquerdas não está só nas respostas diferentes que apresentam. Com efeito, as divergências começam desde logo a nível das perguntas se fazem ou que se deixam de fazer. Por isso aliás o debate à esquerda é duplamente controverso e por isso parece ser tão “trabalhoso” para todos os que nele entram. É que enquanto uns perguntam como o salário pode ganhar terreno à mais-valia, outros perguntam como o tempo sem trabalho pode ganhar terreno ao tempo de trabalho; enquanto uns perguntam como organizar um sistema universal, outros perguntam como recomunizar o público; enquanto uns perguntam como pode o Estado ganhar terreno ao Mercado, outros perguntam como ganhar terreno ao Mercado e ao Estado.
Mas há mais. É que para além das diferentes repostas que damos e das diferentes perguntas que fazemos, temos também modos diferentes de relacionar pergunta e resposta... se virmos bem, no debate à esquerda uma das principais divergências diz respeito ao modo de se articular pergunta e resposta. Enquanto a uns só interessa fazer as perguntas para às quais têm resposta, a outros só interessa fazer perguntas para as quais ainda não têm resposta. Enquanto para uns fazer perguntas é fazer perguntas para que se tem resposta e resulta um simples delírio fazer-se perguntas para que não se tem resposta, para outros fazer perguntas para que se tem resposta é dar respostas e não fazer perguntas. Isto não significa que estes últimos – nos quais me incluo, como já terá dado para perceber – se dêem por satisfeitos com o facto de fazerem perguntas para as quais não têm respostas. Significa, isso sim, que apostam na ideia de fazer as perguntas cujas respostas querem encontrar mesmo que não tenham a garantia de o conseguir.
Tratar-se-á aqui de uma simples questão de querença? Na verdade trata-se de uma querença que é indissociável da convicção de que é possível encontrar tais respostas. Quais são as condições que definem esta possibilidade? A primeira condição é entendermos que qualquer idealismo declarado tem consistência material – é imagem e é pedra – e que essa consistência material se pronuncia a montante e a jusante da própria declaração idealista. A título de exemplo, diríamos que quando Marx e Engels declararam que o espectro do comunismo pairava sobre a Europa, havia então um contexto material a facilitar a germinação de um tal “delírio” (Engels escreveria mais tarde, abusando da sorte, que o grau de industrialização de um país se poderia medir pelo número de exemplares vendidos do Manifesto Comunista); e diríamos também que, depois de uma tal declaração, passaram a existir novos contextos materiais.
A segunda condição é a certeza de que “realismo político” não é algo indiferente ao lugar de onde o calculamos, se “a partir de cima” ou se “a partir de baixo”. A este propósito, é sempre sugestivo o episódio proposto pelo historiador José Mattoso. Algures entre finais do século XIX e inícios do século XX, um rei português passeia com o seu iate, encontra uns pescadores numa pequena embarcação que deambula ao longo da costa atlântica e, quando lhes pergunta se são portugueses, recebe como resposta qualquer coisa como isto: “não senhor, nós somos da Póvoa do Varzim”.
A terceira condição de construção de respostas políticas que inexistem e que são imprevistas no momento em que fazemos uma pergunta, e esta é a condição mais importante na medida em que supera os próprios termos em que definimos a primeira e a segunda condição, é o princípio de seguirmos um modo comunista – do comum – de produção política de perguntas e de respostas.
Mas isto fica para um próximo post, que por ora já se faz tarde.
9 comments:
não tens que repetir a posta para reforçar o teu ponto...
Segue uma eventual reposta em aberto no Peão.
Um abraço
Póvoa de Varzim
Zé Neves, esta cena té-té-té não está a funcionar. Há, nestas tuas postas, um grande bocejo tipo «importa-se de repetir, pf?!». E não é por falta de percebas. É mesmo seca.
Tens de render o Chávez no seu Pugrama de TV que o tipo está cansado!
"Enquanto para uns fazer perguntas é fazer perguntas para que se tem resposta e resulta um simples delírio fazer-se perguntas para que não se tem resposta, para outros fazer perguntas para que se tem resposta é dar respostas e não fazer perguntas."
Há um plano intermédio que obliteras. Podes fazer perguntas para as quais não tens respostas imediatas, mas para as quais PRETENDES VIR a ter uma resposta, e trabalhas, intelectual e empiricamente, e de forma metódica, recorrendo a instrumentos de analise da realidade, com esse fim em vista. Esse é o obecjtivo final, mas não está à mão, aqui, agora, neste instante. Se quiseres uma analogia, é como o cientista que pensa num, num primeiro momento, num conceito mesmo que não tenha naquele momento um indicador nem um dispositivo experimental para testar, em última análise, a utilidade do conceito. Há todo um processo de tradução do plano mais teórico ao mais empírico que dissolve a forma de pensar dicotómica.
Sem indicador ou dispositivo experimental, o conceito é especulação. É optimo para a reflexão intelectual, mas de utilidade nula na compreensão e - sobretudo - na intervenção eficaz e monitorizável sobre a realidade.
Não se trata por isso de uma questão de 'querença', ou de 'fé', ou que queiras chamar, mas de consciência absoluta de que se não trabalharmos metodicamente para encontrar as respostas empíricas concretas, outros o farão. E, tendo traduzido os conceitos em experiências, e por fim em votos, ganharão as eleições para aplicar essas respostas. Isto é, parece-me, um bocadinho indiferente a certas formas 'metafísicas' (sem ofensa) de colocar os problemas (que vejo reproduzidas neste post) para as quais eu simplesmente não vejo a utilidade para prática política, nem agora, nem no futuro (e convém não mandar para as calendas gregas as putativas respostas: agir com inteligência é urgente).
Mas confesso que tenho curiosidade de saber o qual é o "princípio de seguirmos um modo comunista – do comum – de produção política de perguntas e de respostas".
Hugo
Olá,
Não estou acostumada a participar nestas andanças das caixas dos blogues - enquanto leitora ocasional até acho que este poderia ser mais um espaço público de virtualidades, mas na realidade é muitas vezes palco de demasiadas fulanizações e arbitrariedades, excesso de agressividade (pelo menos para a sensibilidade que me informa) que tolda logo qualquer troca fecunda de ideias, enfim, pouca margem de reflexão e debate, desde logo pela velocidade da coisa (e a velocidade é muito pouco democrática) - mas acho esta discussão muito interessante, até pelo que ela revela das formas como vamos pensando a política e a acção.
Podemos concordar ou não com os termos e conclusões do debate, mas esta proposta de pontos prévios parece-me relevante. E encontro aqui sobretudo questões epistemológicas - e não metafísicas - a propósito dos lugares de onde se fala, de concepções e modalidades de acesso ao real, de como podemos validar diferentes perspectivas e formas de conhecimento que são a um tempo teóricas e práticas.
E as concepções que temos do que é a política e da politicidade humana serão sempre, espero, matéria de interrogação e debate. Parece-me, no entanto, difícil deixar fora deste tabuleiro a dimensão de "querença" e de vontade quando falamos de acção política. O sentido do que queremos e desejamos, consciente ou inconscientemente, é que pode divergir. E isto merece certamente reflexão e clarificação.
Ainda sobre a agressividade aqui nestes espaços, um exercício que podemos fazer quando escrevemos é imaginar que temos o interlocutor à nossa frente e estamos a ver a expressão (cúmplice, discordante ou irada), o sorriso (trocista, afável, divertido) o ar (de espanto, de indiferença, de dúvida), o olhar (atento, distraído, sonolento). Só podemos imaginar, claro, porque não temos interlocutor à nossa frente. Há coisas que acabam por ser ditas que nunca o seriam da mesma forma numa conversa presencial, porque aí conta muito a expressividade corporal, o tom de voz, os gestos que enquadram o sentido e a intenção do que se diz.
E assim sempre se reservava melhor o impulso necessário à construção de qualquer obra.
isabel
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