04 dezembro, 2007

O Socialismo do Século XX

Nem quinze dias passam sobre o momento em que comecei a postar nestas bandas e já é a segunda vez que este freguês vem aqui meter conversa. E pela segunda vez o freguês revela que nem por coincidência se poderá encontrar qualquer semelhança entre o seu talento e a virtude do seu pseudónimo. Senão vejam bem. Por um lado o freguês dá uma de verde-pacifista e exige que a economia venezuelana não se desenvolva à pala da posição vantajosa que hoje tem no mercado mundial de energias; por outro lado dá uma de soberanista-nacionalista e exige aos venezuelanos que produzam toda a riqueza a que podem sonhar e diz-lhes que só esta riqueza auto-produzida é que eles podem entre si distribuir. Entretanto, depois de disparar tantos tiros a torto e a direito, um dos tiros do freguês lá acaba por tocar de raspão num ponto importante... É muito claro que uma das maiores debilidades do chavismo – e digo-o desde o meu ponto de vista comunista – é a sua política internacional, uma política em que o “interesse nacional” pesa não só mais do que a vontade de apostar num projecto de transformação sul-americano como também esmaga qualquer concepção internacionalista que não se inspirasse no velho estatocentrismo anti-imperialista. O internacionalismo de Chavez – que o leva a abraçar o regime iraniano, a elogiar o peronismo dos Kirchner e a acamaradar com o governo democraticamente eleito de Putin – ignora assim as forças de resistência que lutam contra a tirania e contra o capitalismo nos diferentes lugares do planeta. O internacionalismo de Chavez é na verdade um internacionalismo nacionalista cuja pedra de toque é o seu anti-americanismo. E se bem que possamos compreender este anti-americanismo à luz da presença da CIA na vida política da Venezuela, e se bem que este anti-americanismo seja por vezes contrariado com aproximações do governo chavista aos norte-americanos de “baixo” – como em parte sucedeu no episódio em que Chavez ofereceu ajuda aos que se viram devastados pelo Katrina –, a verdade é que este anti-americanismo continua a ser um elemento nefasto do ponto de vista daqueles que procuram organizar numa força social anticapitalista que se constitua no desrespeito pelas fronteiras soberanistas dos Estados nacionais, uma força capaz de quebrar o isolamento entre as resistências anticapitalistas activas nos EUA e as resistências anticapitalistas activas no resto do mundo. E, aqui chegados, é sempre bom lembrar que há uma tradição comunista e internacionalista – que vai daqui até aqui –radicalmente crítica dos princípios soberanistas e em tudo contrária às teses do anti-americanismo, essa outra forma de americanismo.

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