Um (péssimo) cartão de visita
Em vésperas de aterrar em Lisboa, mais a sua gigantesca comitiva, Khadafi fez publicar em vários jornais nacionais um anúncio de página inteira criticando a Convenção de Otava sobre minas terrestres. Ficámos assim a saber que, num país que tem mais de 27% do seu território arável coberto por minas colocadas na II Guerra Mundial, o seu presidente não aceita a proibição do fabrico e utilização de minas terrestres, nem a destruição da sua reserva. Para nos convencer, diz que “os países poderosos não precisam de minas para se protegerem. As minas são o meio de auto-defesa dos países fracos”. O senhor não deve ter estado com atenção às incursões americanas não muito longe do seu país. As minas não travam nenhum exército rudimentar, quanto mais as modernas máquinas de guerra. As minas terrestres não defendem nenhum Estado. São uma arma contra os civis. São estas as suas vítimas. Os civis pobres. É uma arma cobarde. Que alguém entenda que a sua apologia é um bom cartão de visita do seus país no estrangeiro diz bastante sobre o delírio absoluto em que se baseia o regime líbio.
3 comments:
Números
# O índice de desenvolvimento humano na África Sub-Sahariana, em 2005, era de 0,493. Nos países da OCDE era 0,916. O IDH estabelece a relação entre a riqueza, e os níveis de alfabetização, esperança de vida ou natalidade. Quanto mais próximo de 1 for o índice, mais desenvolvido será o país. Os dados são do relatório anual de desenvolvimento das Nações Unidas;
# Na mesma região, a esperança média de vida é de 49,6 anos. Se na Líbia, esta atinge os 73,4 anos, em países como a Zâmbia, a Suazilândia ou a Serra Leoa ronda os 40;
# O empobrecimento do continente é visível pelo ano em que se verificou o mais elevado PIB per capita. Em Madagáscar e na República Democrática do Congo foi em 1975, enquanto que na Etiópia, na Mauritânia, Zâmbia ou Gabão foi no ano seguinte. Em contrapartida, Angola ou Argélia verificaram o seu PIB mais elevado em 2005 (os dados abarcam o período entre 1975 e 2005);
# Só 76 por cento das crianças com 1 ano na África Sub-Sahariana são vacinados contra a tuberculose. No norte, na Líbia, este valor atinge os 99 por cento;
# No Chade, só 14 por cento dos nascimentos são acompanhados por profissionais de saúde. Na Eritreia o número é ainda mais dramático: 6 por cento. No outro lado, encontra-se a Argélia, com 98 por cento, ou a Líbia, com 95 por cento;
# A mortalidade infantil é uma verdadeira tragédia no continente africano. Na Serra Leoa, por cada mil nascimentos morrem 164 crianças. Em Angola, 154; no Níger, 150; na República Democrática do Congo, 129; no Chade e na Guiné-Bissau 124. Na Maurícia esta taxa fica-se pelos 13 e na Líbia 18. Os dados são de 2005;
# No Malawi, por 100 mil habitantes há 2 médicos. No Burundi ou na Etiópia há 3. Por outro lado, a Tunísia tem 134 médicos por 100 mil habitantes e a Líbia 129.
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=22479&area=9
Caro Luís,
Aprecio o seu esforço para comparar a riqueza de países que têm petróleo com alguns dos países mais pobres do mundo. Mas, sobre o que está em causa, também defende a existência de minas terrestres? E a democracia, só se critica a sua "claustrofobia" em Portugal para convivermos e aceitarmos com naturalidade qualquer ditador que por cá apareça?
Asneira. O Kadafi é de facto doido, mas o Pedro Sales não lhe anda muito atrás, com a habitual demagogia das "minas contra civis" e outras patacoadas do género.
As minas têm uma aplicação militar óbvia, destinam-se a interditar certas áreas ou a canalizar movimentos. São úteis em muitas operações, não para matar quem lá cai, mas para evitar justamente que alguém passe por ali. É por isso que se sinalizam os campos de minas....para indicar ao inimigo que não deve ir por ali.
Os exércitos organizados registam e mapeiam os campos de minas que lançam, para os poderem levantar assim que não são necessários.
O problema em África e nas guerras do terceiro mundo, é que aquela malta não só nã faz registos, como se esquece da sementeira.
Mas o problema não é das minas...é de quem as usa.
É como uma faca, meu caro. POde servir para furar o bucho do cidadão do lado, mas tb para barrar o pão com manteiga.
O problema não está na faca...está na sua cabaça.
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