28 julho, 2007

Governo virtual

O Ministério da Justiça criou um centro de mediação de conflitos e arbitragem no Second Life. Está certo. Como não consegue resolver os crónicos atrasos do nosso sistema judicial, alguém deve ter dito ao ministro Alberto Costa que talvez fosse melhor alhear-se de vez da realidade e criar uma ilha no jogo da vida virtual. Fica a consolação provinciana de que “somos os primeiros”. Pois, por alguma razão mais ninguém se lembrou de colocar o sistema judicial a regular um jogo de computador...

Aparentemente, ninguém no governo terá reparado no ridículo que é criar uma mediação de conflitos virtual ao mesmo tempo que se deixa, todos os anos, prescrever milhares de processos e outros milhares se arrastam por tempo indeterminado. Processos que custam dinheiro a sério, e não trocos virtuais. Que contam na vida das pessoas e na economia do país.

Este gesto, aparentemente insignificante, é uma das melhores metáforas sobre o “moderno” estilo de governação de José Sócrates. Mediar o quê e para quê? Não importa, o que conta é a forma e a forma é como aparece nas notícias. Dá a ideia de que somos modernos e tratamos a tecnologia por tu. Depois, se não houver ninguém para encher as salas virtuais, não há problema: contrata-se uma agencia de casting virtual. Se não existir, melhor. Ainda vamos a tempo de criar uma e dizermos que, mais uma vez, estamos no pelotão da frente. 


ps: Sobre os verdadeiros números do Second Life, vale a pena ler este artigo da Wired 

4 comments:

GWB disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
GWB disse...

Muito bem vista esta entrada.
E, não nos esqueçamos que é o dinheiro dos cidadãos que irá financiar o tempo gasto por estas criaturas, que irão se dedicar aos "avatars".
Quem será o privilegiado do gabinete do ministro que irá brincar o dia todo às mediações no SL?
É um grande benefício poder enfiar-se num mundo de faz de conta, sem dúvida, enquanto a realidade dói cá fora.
Se calhar é o que o Governo Sócrates pensa de tudo. Não distingue os humanos dos avatars e pensa que tudo é um jogo. Aplicam o que aprenderam sobre gestão em algum jogo de computador onde o fundamento do jogo era conter o défice, e onde pouco importava a vida dos cidadãos.
E, mesmo que os cidadãos barafustassem, não havia nada de mal - é um jogo.
Sócrates que se cuide, porque o seu governo nas próximas eleições ainda recebe um "game over".

JLS disse...

No outro extremo, é deprimente a reprovação recorrente da Ordem de Advogados a qualquer tentativa, por parte de advogados, de formar centros virtuais (e até físicos) deste género. Se o virtual pode ser exagerado, não é mais do que uma extensão da sua 'doutrina' em relação a "lojas" de advogados, que fomentam uma maior proximidade e abertura, que se nota quando estão em causa questões mais 'simples'.

Anónimo disse...

concordo. bom post.
ainda por cima o second life, pela sua lógica de funcionamento, tende a reproduzir a realidade não-virtual. na volta, tb lá os processos vão acumular.
acrescento q fiquei receosa de q alberto costa se dedique a jogar simcity durante o próximo mandato.