01 julho, 2007

O estado a que chegou o João Miranda

Há pouco tempo a Universidade Nova de Lisboa publicou um estudo onde dizia que os portugueses estiveram a trabalhar até ao dia 15 de Maio para pagar os impostos. O Dia da Libertação dos Impostos. Um nome bombástico, mas pouco rigoroso. Afinal não eram só os impostos, era também a segurança social. Depois porque não estivemos a trabalhar para o Estado, mas para o pagamento dos serviços sociais, de segurança ou manutenção das infra-estruturas que este assegura.

O mais giro é que, numa pequena nota de rodapé, lá se dizia que Portugal até é o segundo país da Europa dos 15 onde a contribuição fiscal é menor. Os suecos ainda estão a trabalhar até amanhã e os dinamarqueses só se livraram do jugo opressor do Estado na passada quarta-feira. O que é preciso é criar a ideia de que estamos a alimentar o “monstro”. Que ele não exista, é indiferente.

O João Miranda resolveu levar a lógica até ao fim. Não lhe chega libertar-se dos impostos, quer acabar com o Estado. Acabar não, apenas defende a sua indigência. “Pode haver um Estado sem impostos?”, pergunta, para logo a seguir confirmar a tese: ”claro que pode”. Como? Privatiza-se tudo o que mexe e respira. O que não der para privatizar municipaliza-se. O que tem o pequeno inconveniente de só mudar o nome às coisas, municipalizando a cobrança de impostos. Não está fácil perceber como é que isto funciona, reconheça-se.

Mas o João Miranda tem um argumento de arromba. Já há estados que não cobram impostos: o Vaticano, Tuvalu e, veja-se lá, até parece que Timor se prepara para viver das receitas do petróleo. Há o pequeno problema, claro, de que exemplos como o do Vaticano são difíceis de exportar, o Tuvalu ser uma pequena e híper miserável ilha com 10000 habitantes, e serem poucos os estados que possam viver das receitas do petróleo. Portugal gasta mais com as forças de segurança do que o orçamento combinado destes estados.

Depois há uma coisa chata chamada realidade. Os países nórdicos da Europa têm os impostos mais elevados do mundo da Europa e níveis de competitividade altíssimos. Será que o João Miranda acredita que alguém preferiaria viver no Tuvalu (com o seu rendimento médio de pouco mais de 1000 dólares/ano) do que nos países escandinavos ou nos EUA? Acho que o próprio João Miranda já sabe a resposta.

No fundo, os liberais que temos não aguentavam 3 segundos numa campanha eleitoral em que tivessem que confrontar os seus argumentos com a realidade. O seu ódio ao Estado e a tudo o que é público não precisa do confronto da evidência. Basta-lhes a cartilha. No fundo no fundo, são mais parecidos do que julgam com os ortodoxos estalinistas. O processo mental é o mesmo, só o fetiche é que é diferente.

2 comments:

Anónimo disse...

Era bonito ver a que estado o País chegaria, se os ultra- liberais económicos tivessem Poder.

Cada um por si!

JLS disse...

Excelente análise. O João Miranda já nos tem habituado ao seu non-sense.