20 julho, 2007

O novo meridiano da direita

Diminuição do valor subsídio de férias; despedimentos facilitados, com o alargamento do conceito do despedimento por inadaptação; diminuição dos de dias de férias, redução da hora de almoço e abolição dos limites para o tempo de trabalho diário.

Foi com estas propostas, completamente desequilibradas em favor dos patrões, que o ministro Vieira da Silva iniciou o processo negocial para a revisão do Código Laboral. Uma afronta que permitiu a Bagão Félix rir por último, dizendo que nem ele foi tão longe e que se encontra mais próximo das posições de Carvalho da Silva do que das do governo ou patronato. Um espectáculo revoltante, mas perfeitamente evitável por um partido socialista a quem restasse um pingo de coerência com as propostas e críticas que fez ao Código Bagão Félix.

Uma negociação significa que ambos os lados cedem nas suas posições iniciais. Propostas destas, completamente desequilibradas, são uma imposição encapotada que tiveram ontem a resposta que se esperava das confederações patronais. Onde o governo diz mata, os patrões dizem que é pouco. Não chega. Querem rever a Constituição para abrir as portas ao despedimento sem justa causa ou por motivos ideológicos; limitar o direito à greve; impedir a reintegração de despedidos; deixar de dispender qualquer verba com as faltas justificadas; dias com 12 horas de trabalho e facilitar o despedimento colectivo, sem que se verifiquem alterações tecnológicas ou de mercado.

Isto já não é o liberalismo selvagem, é só selvajaria. Que tenha sido um governo socialista a abrir as portas ao sonho liberal das nossas elites económicas diz enormidades sobre as verdadeiras razões da crise da direita politica. José Sócrates ocupou-lhe o espaço e, ela, sem programa e objectivo anda à deriva. A sua utilidade sempre foi servir de muleta política aos interesses económicos que gravitam à volta do Estado que tanto criticam. Agora, que o PS lhes roubou o discurso e o ímpeto, bem podem parar para “reflexão” ou apresentar 3 ou 4 candidaturas para despojar Marques Mendes do seu lugar. A direita política já gravita noutro eixo e o seu novo meridiano é o Largo do Rato.

5 comments:

L. Rodrigues disse...

Spot On. Sempre me considrei Social Democrata e não hesito em dizer que hoje o centro está à esquerda do PS.

Anónimo disse...

Meu caro amigo

em termos conceptuais, não há nada que justifique que um empresário não possa despedir um empregado, seja porque já não precisa dele, seja porque arranjou outro melhor, seja porque ele não tem produtividade, seja pelo que fôr.

Obrigar um empresário a ser um segundo pai de um empregado, como que um misto de santa casa da misericódia com segurança social, só mesmo em sociedades do tipo marxista que acabam todas como a gente sabe.

Anónimo disse...

Lino José:
O que é exactamente uma sociedade de tipo marxista? Já tenho ouvido falar... Sabe-me dizer onde há uma?

Anónimo disse...

Em termos conceptuais, não há nada que impeça um vendedor de contratar cláusulas de fidelização com o comprador. As leis que limitam os despedimentos são cláusulas de fidelização contratadas pelo Estado, em nome de quem vende o seu trabalho, com os compradores desse trabalho.

Anónimo disse...

sarmento

não existe nenhuma sociedade marxista porque acabaram todas da pior maneira, ou degeneraram em verdadeiros abortos como Cuba ou a Coreia do Norte.

Diga-me uma coisa : e o que é que o Estado tem de meter o bedelho no contrato de trabalho entre duas entidades livres, a empresa e o trabalhador ? Assim como entre senhorios e inquilinos, por exemplo, obrigando aqueles a subsidiar estes com casas ao preço da chuva, com os resultados que se conhecem ?

Eu estabeleço um contrato com uma empresa. Acordamos o vencimento, os deveres e as obrigações mútuas. O que é que o Estado tem de se meter nisso ?

Será que querem fazer dos portugueses uns coitadinhos, incapazes de gerir as suas vidas e de tomar decisões, eternamente dependentes do papá Estado ?

Se um contrato de trabalho não é cumprido por qualquer das partes, existe a Justiça para resolver o problema, à luz do que ficou estabelecido pelas partes. Se a Justiça não funciona, o Estado que meta, aí sim, e a faça funcionar.

As cláusulas de fidelização, como lhes chama, são acordadas, como quaisquer cláusulas, são acordadas pelas partes.

Nos Estados Unidos é assim que funciona e a prova de que funciona bem é que se trata de uma economia pujante, e quem para lá vai trabalhar, não quer de lá sair.