25 julho, 2007

O rei sol julga-se sempre magnânimo

Pressionada pela opinião pública, não restava outra posição à ministra da Educação que não fosse arquivar o processo a Fernando Charrua. Nada disso é extraordinário. Espantoso é que, quando o governo pretende pôr um ponto final nesta história, permaneça a incómoda sensação de que nada é genuíno e que tudo é feito a contragosto.

O despacho da ministra é elucidativo sobre esse estado de espírito. Em primeiro lugar porque, apesar de arquivar o processo, dá provimento a todas as acusações feitas pela DREN a Fernando Charrua. Tendo este comentário ocorrido no gabinete do professor, perante um colega, não deixa de ser extraordinário ver uma ministra, em pleno século XXI, assinar um despacho cujas conclusões se baseiam na delação de uma conversa privada.

Pouco importa o método, o que interessa a Maria Lourdes Rodrigues é que a bufaria instalada na administração pública permitiu desmentir “frontalmente certas versões que circularam na comunicação social», nomeadamente quanto “ao conteúdo alegadamente inócuo ou meramente jocoso das afirmações produzidas”.

Mas a machadada final é perceber que, apesar de garantir o direito de opinião ao professor, Charrua não vai ser reinserido na DREN, de onde tinha sido expulso na sequência do processo que lhe foi movido e que, apesar da desautorização de Margarida Moreira, esta continua hoje no seu cargo como se nada se tivesse passado.

Como o descaramento não parece ter limites para os lados da 5 de Outubro, uma fonte do ministério resume a operação de marketing ontem tentada pelo governo: “não há qualquer sanção apesar de se ter provado o insulto ao primeiro-ministro”. Como qualquer poder que se quer absoluto, o rei sol julga-se sempre magnânimo.

3 comments:

Anónimo disse...

Pedro Sales, porque não vai para a Turquia ter com o Daniel?

Anónimo disse...

O "caso de Fernando Charrua" não é apenas uma situação em que se suscitam questões sobre a forma como a liberdade de expressão e o direito ao bom nome se devem articular. Este caso, ao ter origem numa conversa tida na intimidade, numa conversa que não era para mais ninguém ouvir, lembra-nos aqueles períodos negros da caça às bruxas nos EUA, nos anos 50, liderada pelo senador americano McCarthy, ou das actuações "big brotherianas" da Stasi, na RDA. Há mais histórias deste tipo, mas que não cabe aqui relatar. O que importa é pensar como é possível que, nesta democracia e num período de relativa paz social e política, se verifiquem estas invasões da privacidade dos cidadãos e se encetem, em consequência desse abuso, perseguições como a de que Fernando Charrua foi alvo.

PSR

samuel disse...

é, anónimo das 10:47...
a Turquia é uma boa sugestão.
bem melhor do que o sítio onde se devem juntar os milhares de anónimos como você, a conviverem com a pata que os pôs.