25 novembro, 2007

O Anarcómetro ou o Delegado Zero


Alguns comentários, nomeadamente os do Nuno Castro, perguntam-me em que é que "isto" se distingue do anarquismo. Não vou responder directamente. Não tenho nenhum Dicionário das Doutrinas à mão e temo que se fôssemos os dois consultar o dito, ainda assim, teríamos que primeiro nos entender sobre que anarquismo falamos. Entretanto, e para encurtar caminho, adianto desde já que não me faz confusão que "isto" se tome por anarquismo.

Convenhamos, ainda assim, que já aqui dei um exemplo concreto do que entendo ser um grão na engrenagem que consagra a figura de "liderança" na vida política: a primeira fase do BE, quando o partido se afirmou como uma força que falava a mais do que uma voz. Trata-se de um exemplo não muito significativo e seguramente com contradições – mas também não estamos à espera que se possa tomar partido sem elas – mas trata-se de um exemplo que se quis desviar da celebração da figura do dirigente político. A mesma renitência podia ser encontrada no partido ao lado: refiro-me à recusa da direcção do PCP, sobretudo nos anos 80, em resumir a sua vida política ao rosto do seu líder, recusa que terá sido recentemente abandonada a julgar por todo o marketing que o partido desenvolveu em torno de Jerónimo de Sousa.

Último exemplo. Este, porém, ainda actual. Se olharmos para o zapatismo, podemos ver que aí se afirma a recusa de uma heroicização da vida política. De forma algo dilemática, é certo, o delegado zero esconde o seu rosto; e isto, e ainda que todos saibamos a importância da aura romântica de Marcos na história do neo-zapatismo, tem pelo menos o condão de não elidir o problema da corrupção da democracia às mãos da representação.

9 comments:

Nuno Castro disse...

ó Zé, não estarás a pedir chuva?
é que não se percebe patavina da tua resposta.
Sabes como é que os esquerdistas mexicanos chamam ao comandante marcos actualmente? se calhar sabes, mas nunca é demais lembrar: comediante marcos.

o "isto" vem resumido na seguinte fórmula que eu nem sequer sei se reconheces a enormidade do que estás a dizer: "a corrupção da democracia, para mim, reside no facto de termos líderes."
very anarchistic! Mas se quiseres explicar que raio quer isto dizer, penso que o país te agradecia.

Porque se é isto que vegeta (e conheço outros) no Bloque, então tenham medo! tenham muito medo!

Zé Neves disse...

Caro Nuno Castro,

Não sei o que é o Bloque. E, por favor, pare de usar a adjectivação de anarquista como prova de alguma coisa. Já lhe disse que não me incomoda a dita adjectivação, ainda que não enfie o carapuço.

Se ainda não percebeu patavina, então deve ter sido por sorte que focou a formulação mais "radical" entre as que eu dei. Na verdade, o Nuno percebeu.

Mas, aind assim, volto-lhe a explicar: eu julgo que a democracia representativa, aquilo do parlamento, é uma realidade que não é indispensável à vida política em sociedade e creio que existem outras possibilidades de democracia. Essas outras possibilidades - comunas, formas de democracia directa, arremedos institucionais como o orçamento participativo, dispositivos históricos como os sovietes de que o seu amigo Zizek tanto gosta - não são para mim elementos meramente "complementares" da democracia representativa se não que a possibilidade de uma revolução política. Dei-lhe o PREC como exemplo.

Quanto ao Marcos, folgo em saber que se revê nos esquerdistas mexicanos, ainda que valha a pena saber de que esquerdistas fala. Mas, já que prefere falar do México, lembro-lhe a comuna de Oaxaca, com a qual o zapatismo nem sequer manteve as melhores relações.

Nuno Castro disse...

Ó Zé, deixa lá de quecalhices (também não sei que seja, mas desconfio sempre do purismo linguístico) trata-me por tu, ou mesmo por nuno, e explica lá o que queres dizer com essa dos líderes e da corrupção da democracia. E nem fiques abespinhado por achares que se trata de uma formulação radical. Não é nada disso. Trata-se é de uma formulação inócua. E isso preocupa. Mas preocupa apenas porque és uma pessoa de relevo no BE e que tens um papel - assumido ou não - como porta-voz de uma das suas tendências internas (porque há várias, como sabes melhor do que eu).
Se não queres dizer rigorosamente nada com isso, pronto, também não vem mal nenhum ao mundo. Mas que me cansa ouvir estas atoardas da boca de tantos que não sabem muito bem o que pretendem com elas...Bom, é tempo da gente (outro preciosismo linguístico) esclarecer as coisas, para que elas não fiquem a ser os signos vazios de que falava a Weil num dos seus textos (lindos!).

Agora, quanto ao Zizek e à minha amizadde...isso é com peixe o gajo que aparece de vez em quando lá pelo berloque qualquer. do zizek gosto das coisas sobre sexo e mulheres. e é quando as percebo. seja como for, rejeito o elogio porque não me vejo sequer a tocar a fímbria da túnica do zizek. sou uma pessoa modesta; o que falta mais por aí!

concluindo, não estejas tão na defensiva. porque é claro que o meu repto pelo esclarecimento ficaria sempre para um texto maior. quando te apetecer, claro está. e só o peço, porque tenho interesse nele e não por qualquer espécie de ressaibo incisivo.

o bloque, é uma tendência vazia dentro do Bloco.

Zé Neves disse...

caro nuno

não o tratei por tu porque não estava a ligar a sua cara ao seu nome. continuo a não ligar. mas também prefiro assim, tu-cá-tu-lá com os primeiros-ministros da Europa, como dizia o outro.

Eu não percebi mesmo o que querias dizer com o bloque. Agora já percebo. Dizes que eu sou figura de relevo no seio do BE e que sou porta-voz assumido ou não de uma das suas tendências. Presumo que te refiras aos amigos da associação Manifesto, com a qual trabalhei no âmbito da revista entretando falecida.

Ora, eu não sou mesmo militante do BE, embora venha sendo seu eleitor e tenha participado em algumas iniciativas do BE. A tua preocupação com o estado do BE, pelo que vejo, é bem maior do que a minha.

Quanto à frase em que teclas outra vez. Se regressares ao post, verás que eu dizia que existem duas críticas a fazer à democracia representativa: uma é a crítica dos seus líderes corruptos; outra - a que julgo mais crucial - é a crítica à própria ideia de liderança que está associada à democracia representativa ou, se quiseres, e se quiseres ir ler o Zizek para além das mulheres e do sexo, à democracia parlamentar, burguesa, etc. e outros chavões. Essa é a corrupção (no sentido corrosivo) que requer não uma crítica localizada neste ou naquele candidato mas sim na própria dinâmica lógica da representatividade política. Não é preciso ser anarquista para o dizer e, se quiseres, a recuperação do "mistério do ministério" feita pelo Bourdieu no Poder Simbólico é já uma boa referência bibliográfica para os meus disparates.

Um abraço.
E voltarei por certo ao zapatismo.

Nuno Castro disse...

e só uma pergunta: até onde levas tu a crítica à liderança? Serve só para a democracia representativa ou estende-se por qualquer contexto organizacional? é porque na primeira, confrontamo-nos com os problemas da representatividade, e sim, da heterodeterminação. E na segunda? E quando é que uma liderança é boa? justamente porque orienta ou porque cartografa ou porque imagina - ou não consegues atribuir esse papel a uma liderança? Não estás tu, muito habermasianamente, a tentar racionalmente liderar o debate?
e se toda a liderança te chateia, então estás de facto a assumir um anarquismo radical. Se não for o caso, não seria mais correcto dizer que o que corrompe a democracia será, porventura, e aceitando as tuas premissas - sim, de Zizek, e também de um Ranciére ou em certa medida de um Badiou ou Balibar e, obviamente, de um Marx - a representatividade?
(já agora, não menosprezes o zizek sobre mulheres e sexo!)
mas se assim é, pede-se clareza conceptual. se assim não for, o teu será aquele grito meio compungido meio apologético contra o poder em qualquer das suas formas.
e já agora: não há liderança nos exemplos que elencaste atrás?

Zé Neves disse...

nuno,

há liderança nos exemplos que referi. e, sinceramente, não tenho uma resposta certa para a tua pergunta. mas à partida, neste debat,não distinguiria enfaticamente a organização política estatal de outras esferas organizacionais. A necessidade de liderança pode e deve ser questionada em variadíssimos contextos. Estou-me a lembrar, por exemplo, da democracia corinthiana, um exemplo num campo (o futebol profissional) que é sem dúvida um daqueles onde mais se tem cultivado a figura do líder.
Voltarei a isto com mais tempo...

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