25 novembro, 2007

A Democracia, Tipologia de uma História?


Entre algumas poucas outras coisas, ali atrás procurei dizer que uma crítica de esquerda a Chavez não tem por que ser uma crítica semelhante à crítica da direita a Chavez. E procurei também dizer que falar sobre a Venezuela hoje não pode ser apenas falar sobre Chavez. Entretanto, somaram-se várias reacções ao meu artigo no Público e também ao que escrevi ali em baixo. A talhe de foice quero pegar em dois pontos, o segundo (qual o grau de anarquicidade das minhas posições) num próximo post e o primeiro (uma dúvida avançada por um peão) aqui e agora: diz o Renato do Carmo, entre uma e outra consideração especulativa sobre o que eu escrevi, que não percebe se eu critico a democracia em si mesma ou se critico o modelo liberal de democracia. Devido à minha péssima formação liberal e ao meu não menos parco conhecimento dos debates da “ciência política”, confesso que ambas as formulações – democracia em si mesmo e modelo liberal de democracia – escapam-se-me facilmente por entre os dedos. Por isso sou forçado a colocar a questão noutros termos, contando que ainda assim não escape à questão colocada pelo Renato.
Uma das coisas que me faz alguma confusão nos debates sobre “existe ou não democracia na Venezuela?” é a facilidade – e creio que ela de alguma forma se precipita nas críticas de Pedro Magalhães a Daniel Oliveira – com que tais debates se transformam em discussões tipológicas e taxonómicas, do género, e passe a caricatura: é democracia se renovar-as-licenças-a-canais-de-televisão-mesmo-que-tenham-promovido-um-golpe-de-estado, não é democracia se puser-em-causa-as-propriedades-privadas-de-uns-poucos-num-país-em-que-milhões-estão-privados-de-toda-e-qualquer-propriedade, é democracia se não-houver-possibilidade-de-renovação-ad nauseum-dos-mandatos, não é democracia se as-armas-forem-parar-às-mãos-do-povo, etc..
Esta análise tipológica terá as suas virtudes, por certo que as terá; entre elas, por exemplo, evitarmos um relativismo conceptual insuportável para qualquer debate. Mas não é só isso que a tipologia evita. Ao aprisionar a ideia de democracia na figura do sistema (ou do modelo) – uma figura que necessariamente tende a ser estática e a-histórica – este tipo de análise deixa recorrentemente de lado a necessidade, que julgo imperiosa, de se pensar a democracia enquanto movimento constituinte e enquanto forma da própria resistência. (Questão que aliás me parece estar em jogo no debate travado no dito peão a propósito das lutas estudantis em França).
A limitação higénica da ideia de democracia à figura de um sistema é um problema maior sobretudo para aqueles que se reclamem de uma tradição comunista/libertária e que necessariamente se esforçam por imaginar um estádio humano em que a vida política dispensa o Estado (e, portanto, a democracia representativa). Creio, no entanto, que a idealização da democracia deveria igualmente preocupar democratas como o próprio Renato. Não o digo apenas – ou tanto – pelo que essa idealização pode ter de afim aos projectos neoconservadores de exportação da democracia. Falo sim de algo que me parece anterior a isso: as análises tipológicas sobre a democracia correm muitas vezes o risco de só existirem “fora da história” e de só servirem num tal contexto. Neste dia 25, não queria deixar de referir que é nesse erro que uma e outra vez se incorre quando se procura abstrair a liberdade e a democracia das lutas pela libertação e contra a didatura. Lutas travadas por figuras tão impuras como o senhor da foto, alguém a quem os diagnósticos tipológicos fazem questão de interditar o acesso à condição de democrata e de homem da liberdade.

* o título deste post manipula o título de um livro de Luciano Canfora, A Democracia – História de uma Ideologia, livro que não li mas que será objecto de um interessante debate na próxima 5ª feira no ISCTE.

4 comments:

Tiago Soares Carneiro disse...

Nós por cá tb vivemos numa DITADURA.

Verdade!

Paulo Mouta disse...

A democracia é, como será fácil perceber das palavras de todos quantos sobre ela escrevem, um conceito muito abrangente. No entanto, na minha modesta opinião, penso que existe uma confusão. Em primeiro lugar não podemos considerar democrática uma sociedade que não dá igual importância a cada um dos seus membros. Na sociedade liberar o dinheiro é efectivamente o poder. No entanto existem as condições que se consideram fundamentais para que o conceito liberal de democracia seja efectivo. Existe liberdade de expressão e estão consagradas outras liberdades individuais. Creio que liberdade e democracia podem e devem ser complementares mais não são de todo sinónimos.
Pior é a análise do sistema como um todo. Se tivermos em conta a visão que os liberais têm das sociedades onde partidos comunistas tiveram o poder podemos retirar um ponto em comum com a própria sociedade liberal. A inexistência de alternativa de poder. O totalitarismo. A democracia liberal mascara-se nas liberdades individuais (nas que lhes convém) para esconder a verdadeira face de um sistema totalitário, estruturado para se perpetuar através de um rotativismo entre partidos num sistema parlamentar. Claro que apenas podem rodar o poder os que lhe pertencem, ou seja os do sistema propriamente dito sustentados pelo poder económico. No entanto é criada a ilusão de que é possível, através do voto, escolher verdadeiras alternativas de poder, quando na realidade isso é impossível. A democracia liberal vive, tal como essas sociedades que tanto critica, da intriga política, da manobra de bastidor, do favorecimento e na profissionalização, da formação liberal de quadros que perpetuam o trabalho dos antecessores e, claro está, das contingências do mercado.
A Venezuela está a deixar o território da definição de democracia liberal. Resta saber se a intenção é caminhar para uma forma de democracia não formal e que tenha nesta fase a sua génese e não a sua meta.

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