08 novembro, 2007

Queremos mentiras novas

"Tudo faremos para que os funcionários públicos não percam poder de compra", disse José Sócrates há menos de um mês. Uma promessa, mais uma, que não é para levar a sério. Ontem, soubemos que os aumentos destes funcionários vão ficar nos 2,1%, um valor de referência também para o sector privado. O mesmo valor que o Governo prevê para a inflação em 2008. Como há anos e anos que sucessivos governo revêm a inflação em alta depois de decidir os aumentos salariais, o resultado deverá ser o mesmo dos últimos nove anos: a diminuição do poder de compra os portugueses. Os mesmos a quem José Sócrates deu os parabéns pelos sacrifícios para atingir os 3% de défice, ficaram agora a saber que até atingirmos os o,4% de défice "não podemos entrar em veleidades". Os sacrifícios são para continuar, pelo menos até 2010, asseverou o ministro das Finanças.

A ameaça do défice legitima todas as restrições sociais. É como a história do bastão e da cenoura. Como o primeiro nunca apanha o vegetal, corre sempre atrás da sua ilusão. Não existe nenhuma evidência que garanta que a existência de um défice zero estimula a economia. A obsessão com o défice é apenas a ameaça que justifica todas as restrições sociais, bem como o corte nos serviços públicos ao mesmo tempo que se aumenta a carga fiscal. Primeiro era preciso deixar para trás o défice excessivo. Depois a meta passou a ser atingir os 3 %. Agora, é para chegarmos aos 0,4% em 2010. Depois, logo se inventa qualquer coisa para continuar a cortar nos salários e nos serviços públicos. Podiam ser mais originais. Queremos mentiras novas.

7 comments:

ngoncalves disse...

"Não existe nenhuma evidência que garanta que a existência de um défice zero estimula a economia."

Pode ser. Mas existe algum argumento a favor do governo gastar mais do que recebe ?

André A. Correia disse...

A questão é quem tem de "pagar" para esta diminuição do défice das contas públicas.

P.e., dizer-se a um pensionista que aufira 3.000,00 €/mês que leva aumento zero significa, na prática, que se está a cortar-lhe o rendimento real na mesma proporção da inflação, e se acrescentarmos o aumento da fiscalidade a esta classe o cidadão vê o seu rendimento disponível diminuir em pelo menos 7 a 10%.

Ora, isto significa menos consumo por parte desse contribuinte, e portanto menos dinheiro a circular na economia, e como tal menos crescimento!

Dá que pensar.

Pedro Sales disse...

Nelzon,

De acordo. deve haver rigor nas contas públicas (o que, diga-se de passagem, não quer dizer que exista com um défice zero, basta ver os relatórios do Tribunal de Contas sobre as parcerias público-privadas). O défice não deve ser galopante, ninguém defende isso. Apenas que não existisse esta fúria, quase religiosa, para chegarmos ao défice zero.

joshua disse...

Não consta que na Irlanda se tivesse dado tanta pancada nos rendimentos das pessoas para dar o salto que se deu.

seaman disse...

pois é meu caro Joshua a diferença está no facto da Irlanda estar cheia de Irlandeses e Portugal de Portugueses para além de que em Portugal os governantes sabem bem como se governam e apostam nisso sempre preocupados como o bem estar fisico e mental de todos nós..........temos o que merecemos e com maioria absoluta e PR á 1ªvolta

Paulo Mouta disse...

O exemplo do André a. Correia é um excelente exemplo do efeito que a política dos baixos salários ou baixas pensões tem sobre a economia. Se há menos rendimento disponível haverá certamente menos consumo e menos mais-valias no público e no privado. Contudo, e infelizmente é um exemplo de uma pequena minoria. Aqueles que nos devem preocupar são as largas centenas de milhares de expemlos daqueles que têm pensões abaixo dos 300 Euros. E para esse so cenário é bem pior.

André A. Correia disse...

É verdade o que o Paulo Mouta diz: a preocupação tem de ser direccionada para quem aufere baixos rendimentos. Mas como fazer a distribuição de riqueza sem haver crescimento?

Restará ao Estado emagrecer nas despesas supérfluas, que são muitas, evitando os cortes cegos nas despesas com pessoal e pensionistas. Esses têm necessariamente de ver os seus ordenados crescer, mesmo que moderadamente, para que o dinheiro circule.