07 dezembro, 2007

a guerra dos mil anos

João Bernardo. Alguma vez alguém ouviu falar dele? Os mais novos provavelmente não ouviram. E, no entanto, e como ali assinalou José Pacheco Pereira, Bernardo é alguém cuja obra é objecto de debates em lugares tão perdidos, minúsculos e insignificantes como o Brasil. Não sei se Bernardo se revê na definição do seu percurso político feita por Pacheco Pereira - diz Pereira que Bernardo transitou do maoismo para um marxismo conselhista - mas parece-me que ela não lhe assenta mal.
Ora, uma excelente oportunidade para nos aproximarmos das ideias de Bernardo - que mais recentemente publicou em Portugal este livro aqui - é o número de Dezembro do Le Monde Diplomatique - Edição Portuguesa, número acabado de chegar às bancas e onde aparece um pequeno ensaio de Bernardo intitulado "A guerra dos mil anos", ensaio onde se responde ao desafio de pensarmos uma política transformadora hoje - e quando digo hoje, digo "literalmente" hoje, no entretanto semestral do 90º aniversário de 1917 e do 40º aniversário de 1968.
Este desafio a que Bernardo responde foi também lançado pelo conselho editorial do LMD a outros cinco autores: ao historiador Manuel Loff, que escreveu no número de novembro um artigo intitulado "Depois da Revolução?... Revisionismo histórico e anatemização da Revolução", a Manuel Gusmão, a José Medeiros Ferreira, a Fernando Rosas e a Rui Tavares, autores estes cujos ensaios irão aparecer nos próximos números do jornal.
Procurando "poluir" um pouco mais o debate que alguns blogues têm mantido, debate ali registado por Miguel Madeira e cujo último post julgo ser este, deixo aqui um pequeno parágrafo do ensaio de Bernardo:

"Os principais chefes bolcheviques - Lenine, claramente, como era seu hábito, e Trotsky, malgrado a imagem de internacionalismo que mais tarde ele propagou a seu respeito - depressa deixaram de considerar os acontecimentos na Rússia como um elemento do processo revolucionário europeu e subordinaram tudo à conservação do Estado soviético. Esta passagem do internacionalismo para o nacionalismo foi responsável pela ruptura dos bolcheviques com o outro partido governamental, os Socialistas-Revolucionários de Esquerda, e pela instauração do regime de partido único, com a consequente extinção da democracia proletária. E como a nação não é mais do que a expressão geográfica e demográfica do Estado, não custa a entender que ao mesmo tempo que se desenvolvia o nacionalismo na política se desenvolvesse também o centralismo estatal na economia. As experiências de participação dos trabalhadores na gestão das empresas foram rapidamente abolidas, e em 1918 a tecnocracia recebeu de volta o controlo das indústrias e dos bancos".

ps: os Ladrões de Bicicletas assinalam ainda outros motivos de leitura do diplomatique tuga deste mês.

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