Um partido desmantelado
Portugal tem dois milhões de pobres e mais dois milhões de pessoas que só subsistem com os apoios estatais. É neste contexto que Menezes, num país em que a carga fiscal fica a léguas da média europeia, se propõe a desmantelar um Estado que, diz, oprime as pessoas com o seu peso excessivo. Que pessoas? Os pobres que só têm uma creche e uma escola para os filhos, ou direito a protecção na saúde graças ao incipiente estado social que ainda vamos tendo?
Mas, como se tem reparado nestes últimos meses, nada do que Menezes diz é para fazer sentido. É para fazer efeito. Defende uma fúria liberalizadora ao mesmo tempo que confessa que o seu modelo é Sarkozy, sem se deter três segundos para reparar que este é o representante europeu de uma direita economicamente proteccionista e intervencionista. Tudo porque, como na “opressão” do peso do Estado, alguém lhe deve ter dito que ficava no ouvido e aparentava uma imagem de “solidez” politica que procura incessantemente transmitir.
Menezes criticava Marques Mendes porque dizia que este era um líder fraco e não se fazia notar na oposição ao governo. Se neste campo o PSD tem sido um deserto desde que Menezes chegou à liderança, é justo dizer que nunca existiu uma liderança mais fraca do que a de Menezes. Não por causa da sua imagem, popularidade ou eficácia, mas porque representa a derrota da política e da ideia de confronto de alternativas às mãos de uma pequena equipa de especialistas em escrutinar as mais pequenas tendências do dia-a-dia. O líder que prometia o poder às bases entregou a linha estratégica do maior partido da oposição a uma equipa de especialistas comunicacionais.
Os liberais podem estar esfusiantes com o liberalismo do homem que se tornou conhecido dos portugueses insurgindo-se contra o elitismo liberal de Durão Barroso. Não se iludam. Quando chegar a altura de apresentar propostas, e alguém na Cunha e Vaz lhe soprar que esse modelo já não vende e que é mais fácil o partido ser desmantelado nas urnas do que desmantelar o Estado, o autarca de Gaia será o primeiro a meter as proclamações liberais na gaveta. Está escrito. O populismo de Menezes não é um defeito, é mesmo o seu feitio.
6 comments:
Menezes dizia-se de centro-esquerda, só contradições.
A ideia de que "isto" é a alternativa a Sócrates é duplamente inquietante!
a: "isto" sucede a Sócrates.
b: exactamente por "isto" pretender ser a alternativa, Sócrates continua... continua...
Só não consegui ver as léguas em que nos encontramos do resto da europa, no caso do pagamento de impostos. No resto, ainda vá lá...
caro Pedro, não se percebe bem a tua preocupação, se é com o teor do programa de menezes se é com a possibilidade de isso dar vantagem a sócrates. Tenho impressão que te incomoda mais a segunda.
bom natal para ti que me saíste num fantástico bloguer ;)
Real
Real,
Tens razão. O programa do Menezes não me incomoda muito. Não pelas propostas, que variam entre o desumano e o idiota. Mas é tão fora da realidade do país - e da Europa, já agora - que sei que está longe o momento em que alguém ganhe eleições com propostas destas. Só que a azelhiche do Menezes tem uma consequência. Tudo se encaixa para termos o Sócrates outra vez com a maioria absoluta.Bom Natal também para ti também.
Caro JMA,
Os impostos em Portugal estão 6% abaixo da média europeia. Há países, como a Bélgica ou a Suécia onde se entrega mais de 60% do rendimento total para o Estado.O problema que temos no país com os impostos é o predomínio dos impostos indirectos, como o IVA, que são socialmente mais injustos e penalizam os mais pobres. Mas, globalmente, estamos bastante abaixo da média europeia. O que vale a pena discutir não é a quantidade que pagamos, mas de que forma eles são usados e se a distribuição é feita de forma eficiente. Aí, sim, parece-me que há campo para uma discussão profunda.
Meu estimado Pedro, pois, mas as maiorias do sócrates têm tido, pelo menos, uma vantagem, colocam o PSD e o BE a votarem quase sempre do mesmo modo, sempre ajuda à decisão do eleitorado ;)
Real
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