02 janeiro, 2008

As novidades chegam sempre atrasadas à província


"A universalidade e gratuitidade deste tipo de serviços - saúde, educação e segurança social -, é exactamente aquilo que é insustentável. É a ideia do modelo social europeu. É completamente insustentável". Pacheco Pereira, balanço de 2007 para o Expresso.


Não deixa de ser curioso que a assumpção liberal de Pacheco Pereira ocorra precisamente quando, do outro lado do Atlântico (e no único país industrializado onde se quebrou o mito da universalidade e gratuitidade deste tipo de serviços), todos os candidatos presidenciais se esforçam para apresentar planos que, de uma forma ou de outra, garantam cuidados de saúde aos 46 milhões de cidadãos que não têm direito a qualquer assistência, pública ou privada. O fim da universalidade e gratuitidade deste tipo de serviços tem vítimas. E quando Pacheco Pereira diz que o modelo social europeu é insustentável, não deve ter perdido muito tempo para reparar que os EUA, despendendo percentualmente o dobro de qualquer outro país, têm piores indicadores de saúde e deixam um sétimo da sua população ao abandono. O mesmo na educação, onde os eleitores americanos têm sistematicamente rejeitado em referendo a introdução do cheque ensino, e, no único estado onde este se encontra em vigor, os custos públicos com a educação têm disparado descontroladamente.

Se é assim nos EUA, imagine-se as consequências sociais de colocar um ponto final na universalidade dos cuidados de saúde ou educação, num país com dois milhões de pobres e onde o Estado considera rica qualquer família que se governe com dois mil euros por mês. Insustentável é esta lógica liberal, assente na sistemática campanha contra os serviços sociais prestados pelo Estado, e que nos quer fazer crer que é inevitável o fim da universalidade das prestações sociais, porque sim. Insustentável, porque é uma violência social, e insustentável porque não tem nenhuma sustentação nos factos e nos números.

Leitura recomendada: The Free Market: A False Idol After All?, no New York Times.

15 comments:

Anónimo disse...

Eu propunha que se começasse por cortar o salário de Pacheco Pereira. Diz que dá aulas não sei onde mas não conheço ninguém que tenha sido seu aluno. Um parasita que vive de não fazer nenhum. Se me adiantassem dinheiro para fazer biografias e até a ele eu biografava.

JV disse...

Não é por maldade que Pacheco diz estas coisas. É mais ignorância. Ou melhor, é não ter capacidade para perceber que quem constrói o futuro somos nós. Como se tudo fossem fatalidades!!

L. Rodrigues disse...

E Menezes a falar no "estado possível" como se o Estado fosse um luxo, provavelmente insustentável...

Anónimo disse...

Já não há paciência para estes senhores.

joshua disse...

O Pacheco Pereira é que é insustentável.

Anónimo disse...

A vida faz-se de vidas de carne e osso, não só de pasta de papel e argumentos.

Vivo nos EUA há dois anos, quando cheguei fui confrontado com a necessidade imediata de realizar um seguro de saúde, durante seis meses, eu, a minha mulher e a minha filha de três anos tivemos um seguro que nos custou cerca de 4 mil dólares (e que cobria até cerca de 75% das eventuais despesas, embora excluindo certas especialidades como oftalmologia ou tratamentos dentários). Nesses seis meses, felizmente, nem por uma vez necessitamos de fazer uso do seguro de saúde.

Após esses primeiros seis meses cancelei o seguro procurando entretanto uma alternativa menos dispendiosa, na semana seguinte ao cancelamento tivemos que levar a nossa filha à urgência de um dos hospitais centrais de Nova Iorque, pois apresentava febre elevada e tosse. Após um processo inquisitorial em que averiguaram se nós poderíamos pagar a assistência médiaca, visto não termos seguro, desta forma evitando a recusa de tratamento e expulsão do hospital, a minha filha foi vista por uma médica que lhe mediu a temperatura, deu um xarope para baixar a febre e receitou um medicamento que no dia seguinte teriámos que ir buscar a uma farmácia. Duas semanas depois chegou a nossa casa um envelope do hospital/empresa, mais de 700 dólares que teríamos que desenbolsar para pagar um simples episódio de urgência de uma criança. Felizmente, tal como eventuamente o sr. Pacheco Pereira, tinhamos dinheiro para pagar essa despesa e evitar um processo em tribunal, mas é inevitável sentir um pasmo perante o modo como o sistema de saúde funciona nos EUA e pelos milhões que são "explusos" dos seus direitos neste país. Esta é a novíssima (que até já não o é assim tanto) forma de discriminação que persiste, ganha adeptos e deveria envergonhar a sociedade norte-americana. Esse exemplo que muitos dirigentes políticos europeus parecem querer seguir. Para aqueles que ainda não viram o filme "Sicko", vejam, não é ficção mas um documentário-denúncia que deve alertar muitos europeus que não percebem os privilégios que têm.


O sr. Pacheco Pereira é um ignorante porque ignora (ou quer ignorar) que há casas, famílias com homens, mulheres e crianças para quem é impossível ter uma biblioteca na qual constem a sua biografia de Álvaro Cunhal ou os sete volumes da viagem Em Busca do Tempo Perdido de Proust.

Kapitão Kaus disse...

Meus Amigos,
O Pacheco Pereira tem razão, quer isso não nos agrade muito. Ou os impostos aumentam ou o estado social será uma miragem. E acreditem que eu sei do que estou a falar, infelizmente...

Aurora disse...

Atenção meus senhores, apareceu mais um iluminado. O kapital kaos.
Ele sabe do que está a falar.

Kapitão Kaus disse...

Caro Nuno,
Não sou nem aspiro a ser nenhum iluminado.
A questão é muito simples: o estado social parece ter os seus dias contados - basta ir acompanhando as notícias que nos entram pela casa dentro... Não quero com isto defender uma visão neoliberal ou neoconservadora do desenvolvimento económico da nossa sociedade. Só me parece é que está na hora de ser promovido um debate sério, amplo e responsável acerca do modelo de desenvolvimento que queremos ter no futuro, para evitar andarmos por aí a acreditar no Papai Noel... É que todos os nossos iluminados da política nos vendem muitas ideias na altura das eleições: vamos baixar os impostos! vamos dar uma casa, um emprego e um carro a cada cidadão! vamos fazer isto e aquilo! OK, apoio esses belos discursos. Só coloco uma questão: quem paga? Há dinheiro? Óptimo! Não há dinheiro? Como se arranja?
Cumprimentos

Kapitão Kaus disse...

Adenda ao comentário anterior:
Se o nosso crescimento económico fosse da ordem dos 4% ano ano, não seria necessário preocuparmo-nos com estas coisas. O financiamento para o estado social - que é absolutamente necessário, dado o assustador número de portugueses que viviam abaixo do limiar da pobreza! - estaria assegurado. O problema é que não é e, com a recente escalada do preço do petróleo, não parece poder vir a ser conseguido nos tempos mais próximos. Acrescente-se a isto a ditadura orçamental imposta pelo célebre limite de 3% de endividamento relativo ao PIB e a eliminação, já a partir de 2013, das ajudas europeias ao nosso desenvolvimento. Pois é, vamos passar a ser contribuintes líquidos para a UE e há toda uma carga de sanções (económicas!) caso o limite dos 3% seja ultrapassado... Parece uma "pesadinha de rabo na boca!"...
É só por isso que me parece fundamental falarmos seriamente acerca das coisas, sem demagogia, porque, quer nos agrade ou não, não será possível continuar a fazer omoletes com um número de ovos cada vez mais reduzido...
Cumprimentos

Jorge Figueiredo disse...

Kapital kaos
Um dos problemas de Portugal é o desperdício de dinheiro em obras de rendimento duvidoso, como o novo aeroporto de Lisboa, ou o TGV.Outro poderá ser a impunidade com que os decisores políticos toleram derrapagens nos custos de obras públicas.
E porque não falar da competência dos gestores públicos, premiados com reformas, salários e outras mordomias, independentemente dos resultados da sua gestão?
Todos estes dinheiros, se convenientemente usados, poderiam financiar o SNS. Poder-se-ia seguir outra via, paralela: investir na educação para a saúde e nos equipamentos desportivos.
Como se vê, não seria necessário o crescimento de 4%, mas apenas vontade de usar bem o dinheiro dos contribuintes, sem o desviar para as contas de amigalhaços.

Kapitão Kaus disse...

Sabe, Jorge Figueiredo, também concordo consigo naquilo que diz.
Temo, porém, que, dado o panorama passado e presente (atrever-me-ei a dizer igualmente o panorama futuro...), daqui a uns anitos vamos continuar a assistir a mais do mesmo. É que os partidos políticos, independentemente da cor e da ideologia, trabalham todos da mesma maneira...
E aquilo a que assistimos é uma caminhada, a passos largos, para uma sociedade baseada na filosofia do utilizador-pagador e na redução dos direitos sociais. Se esse é o caminho, então que seja ASSUMIDO e que não andemos todos a brincar e a dizer que somos de esquerda, quando a política da esquerda parece não ter grandes diferenças da política da direita.
Se, de facto, queremos um estado social (e parece-me que ele é deveras necessário), então explicitem-se os seus custos reais e o seu financiamento. E ASSUMA-SE que ele é necessário, sem andar com meros paliativos, que fazem lembrar uma brincadeira de crianças.
Cumprimentos

Anónimo disse...

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