09 julho, 2007

Por uma Europa sem cidadãos

A entrevista de António Guterres ao “Diga lá Excelência”, publicada na edição de hoje do Público, é um dos melhores exemplos de como grande parte da elite política vê a construção europeia. Existe um caminho, que já foi traçado e acordado em Bruxelas, e todos os obstáculos que se colocam a esse caminho podem paralisar a Europa.

O pior é quando esses obstáculos são os cidadãos e a sua teimosa vontade não coincide com a dos eurocratas. Aí, só resta uma solução. A “Europa tem de encontrar outras formas de expressão da opinião pública” que não passem por um referendo que se “transforma inevitavelmente, no plano político, numa espécie de roleta russa”. Desde que o pessoal não vá a votos, tudo bem. Deixem lá a opinião pública “encontrar outras formas de expressão”, como enviar uns sms e fazer umas chamadas de valor acrescentado. É mais moderno, entretém o pessoal e não paralisa a Europa.

A argumentação teórica é mais sofisticada, mas António Guterres não está assim tão longe do ministro Jaime Silva que, ao primeiro cidadão que encontra a protestar contra os acordos europeus, vira-lhe as costas e diz-lhe para este pedir para Portugal sair da União. Bonito, bonito era uma Europa só com eurocratas e sem a roleta russa da democracia...

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