Uma campanha subterrânea
Depois do inenarrável hino de apoio a Carmona Rodrigues, Toy voltou hoje a entrar em força na campanha. O mesmo Toy que ainda há dois anos dava espectáculos de apoio à CDU em Setúbal, e que dá entrevistas a dizer que “quem me quiser em campanha tem que pagar”, apareceu ontem como figura de cartaz num concerto da Gebalis. Para quem tem problemas com as siglas, a Gebalis é a empresa que gere os bairros sociais da Câmara de Lisboa, e que é presidida por um candidato da lista de Carmona Rodrigues. O caso, que revela uma nada indirecta forma de pagar a participação do cantor na campanha, deu tanto nas vistas que o concerto foi cancelado.
Numa câmara que tem um pelouro da cultura, a empresa que gere os bairros municipais dedica-se a gastar milhares de euros a organizar espectáculos nos bairros sociais, perpetuando a lógica guetizante de zonas que vivem fechadas sobre si próprias. Não oferece frigoríficos, como Valentim, mas, com menos dinheiro, cria uma rede clientelar junto das pequenas colectividades de bairro que é o sonho de qualquer candidato à câmara. Compreender a forma como se faz esta campanha paralela é compreender porque razão, nos últimos 30 anos, Fontão de Carvalho foi, à vez, vereador do PS, PSD, CDU e PP.
Mais interessante que os truques de Carmona é a forma, exemplar, como este caso nos demonstra como é possível em Lisboa, e no século XXI, realizar-se uma campanha subterrânea em tudo semelhante à que acontece em Gondomar ou num qualquer país da América Latina. Uma campanha que não aparece nas notícias e da qual nada se sabe do “outro lado” da cidade, a não ser quando um caso aparece nos jornais.
Este episódio é revelador por isso mesmo. Por nos dar conta de como, durante anos, a presença nestas empresas municipais foi disputada pelos partidos que governaram a Câmara. Oferecendo pão e circo, elas são a garantia de milhares de votos. Afinal, a Gebalis sempre está à frente de 70 bairros e 25 mil fogos, onde vivem aproximadamente 87.500 moradores. 1 em cada 5 eleitores de Lisboa vive nestes bairros. Com tanto voto em jogo até é de estranhar que o Carmona não tenha contratado a Shakira.
14 comments:
Agradeço que me ajude a saber em que mandato o Sr. Fontão de carvalho foi eleito pela CDU. Ou, se preferir, em que mandato ele, tendo sido eleito por outra lista, se transferiu para a bancada da CDU.
Obrigado
Ó amigo, também me parece que o Sr. Fontão de Carvalho nunca foi da CDU... O melhor era confirmar e corrigir se for caso disso, não acha? Não é por nada, mas o vosso blogue é tão simpático que não merece esta (eventual) falta e rigor...
pois é pedro, não custava nada ser rigoroso. prefiro acreditar que isto foi falta de rigor embora não esteja muito convencido disso. De qualquer forma, é um erro.
renegade
Trajano e Marta,
Têm ambos razão numa coisa. Fontão de Carvalho nunca foi vereador da CDU. Foi vereador, independente, do comércio e abastecimento de 1997 a 2001. Fontão fez parte, como independente, da lista eleitoral apresentada pela coligação PS-CDU. Proposto por João Soares, e não pela CDU, é um facto, mas fazia parte da coligação que governou a câmara durante 4 ans, como podem ler em
http://dn.sapo.pt/2007/02/17/tema/fontao_carvalho_de_cena_tres_meses_e.html
Se queremos contribuir para um correcto esclarecimento e entendimento da realidade politica, convêm ser o mais exacto possível nas nossas afirmações e comentários sobre a POLIS, ser candidato na coligação PS/CDU e ainda por cima propôs-to por João Soares, não é a mesma coisa que ser candidato da CDU.
Confundir as coisas de certeza que não é um bom trabalho que prestamos aos cidadãos e a nós próprios.
Fontão de Carvalho foi eleito numa lista PS-PCP.
E que eu saiba o PCP nunca colocou nenhuma obstaculo ao seu nome.
Bom seria se falassemos verdade. Fontão de Carvalho não foi nunca Vereador da CDU em Câmara alguma deste país. Foi Vereador independente eleito nas listas do PSD, no último mandato. Foi Vereador eleito nas listas da Coligação Mais Lisboa (PS-PCP), ficando integrado nos Vereadores do PS (pois foi proposto por este partido), deixando o PS para integrar a maioria de Direita, quando Santana Lopes se torna Primeiro Ministro e Carmona Rodrigues assume a presidencia da CML. E, antes disso havia servido já o PS como Vereador proposto por este partido na Coligação Com Lisboa (PS-PCP-PEV-UDP)e como Vereador do CDS (antes de ser PP), durante a Presidencia de Krus Abecassis.
Se tentarmos imputar que Fontão de Carvalho foi vereador da CDU, por ser da Coligação, então também o teria sido da UDP, hoje parte integrante do Bloco de Esquerda, o que me parece perfeitamente abusivo.
Portanto reponha-se a verdade, e diga-se que Fontão de Carvalho foi vereador do CDS, PS e PSD respectivamente. E retire-se a sigla de quem nunca o teve ou propôs como Vereador.
Carlos A. F. de Moura
Muito obrigada, Carlos Moura, pelo seu esclarecimento. A blogosfera é um meio fantástico de comunicação, mas, mesmo sem ter as características do jornalismo (que tem regras e códigos a cumprir) deve obedecer a critérios de rigor e seriedade para ser um sítio de verdadeiro debate de ideias.
Carlos Moura quem era o vereador da UDP nessa coligação.....
A UDP só não elegeu nenhum Vereador ao tempo, porque os nomes por esta informação indicados, não se encontravam no numero de eleitos que esta coligação teve. Só que isso não isenta esta força política de um papel na coligação. Ora não sendo Fontão de Varvalho, Vereador da CDU, porque teria esta de responder por ele? Apenas porque tinha Vereadores eleitos? Se considerarmos que a Coligação tem de responder por todos os Vereadores, então TODOS os partidos da Coligação têm de responder, quer tenham Vereadores eleitos ou não. Caso contrário que responda só quem o propôs.
Porque o PCP ,quer com Sampaio quer com Soares, sempre discutiu os nomes na vereação, aliás foi isso que levou á roptura com Carrilho.
E como tal teria toda a legitimidade de pôr o seu veto a alguem que tenho a certeza, mereceria muitas dúvidas ao PCP.
Por isso volto a dizer, não pode sacudir a água do capote.
A UDP ,o PSR pelo menos no primeiro mandato de Sampaio, discutiam objectivos, e programa para Lisboa, e que eu saiba nunca se preocuparam com lugares.
È uma diferença de monta.
Aliás o que é bizarro é o Fontão estar há tantos anos na Camara e só agora com José Sá Fernandes finalmente foi posto em causa.
Muito estranho, realmente muito estranho
Senhor anónimo das 16:04, um pouco mais de seriedade não lhe ficava nada mal.
Com que então a UDP e o PSR só discutiram programas e objectivos e até nem queriam saber da possibilidade de eleger elementos das suas forças politicas durante as negociações.
Olha que "naifs" e ingénuos que eles são.
Mas quem é que voçê quer enganar?
Um pouco mais de seriedade não lhes ficava nada mal!
Sr. Antonio Silva, por vezes a realidade não se compadece com as convicções partidárias.
E quanto a isso não se pode fazer nada, o senhor tem as suas ideias assentes , não aceita que sejam postas em causa, eu tenho as minhas, e se me provarem que estou enganado ,não tenho pejo em dizer que errei, infelizmente neste caso quem tem razão sou eu.
O que é grave é que pessoas que têm estado sucessivamente nas Camaras, muitas vezes com mudança de camisola, muitas vezes com fumos de corrupção a pairarem sobre as suas cabeças, quase nunca sejam apanhados nas malhas da justiça.
E já agora porque pensa que Carmona Rodrigiues se tem saído razoavelmente nesta campanha.
Acha normal que alguem ligado á Braga Parques ( possivelmente quem lhe está a financiar parte da campanha) alguem que nestes seis anos deixou Lisboa no estado em que está, tenha merecido tão poucas criticas, de alguns candidatos que se reclamam de esquerda.
Depois não se admirem que certos eleitores vão na conversa do Carmona.
Enviar um comentário