22 novembro, 2007

Lost in translation

As autoridades tributárias britânicas perderam os dados fiscais e bancários de 25 milhões de contribuintes, metade da população da ilha. Tudo porque os serviços responsáveis pela atribuição dos abonos familiares enviaram dois discos - com os nomes dos beneficiários, morada, historial bancário e fiscal – através do serviço expresso de entregas de uma empresa privada. Na origem desta inacreditável falha de segurança dos dados pessoais dos cidadãos, segundo os documentos revelados pelo Guardian, estão os cortes orçamentais que obrigaram o serviço a remover as medidas de segurança destinadas a proteger a informação. A obsessão com o défice no seu esplendor.

O país, entretanto, está em estado de choque e milhares de pessoas invadem as agências bancárias para alterar o pin das contas. Num país cujos cidadãos são ciosos, como poucos, dos seus direitos e liberdades individuais, não deixa de ser sintomático que o governo que mais fez para as limitar se arrisque a penar os seus últimos dias crucificado pela forma desleixada e irresponsável como concentra e trata as informações fiscais e bancárias dos seus contribuintes.

Mas este caso - limite, é certo - é também revelador sobre os perigos associados à crescente massa de dados e informações pessoais à disposição dos estados modernos. Já aqui critiquei, por várias vezes, as recentes alterações legislativas realizadas pelo governo socialista e que permitem a criação de uma base de dados de ADN ou a videovigilância nos táxis. Esta última medida é sintomática, permitindo a gravação, armazenamento e tratamento de dados a uma empresa privada que ainda ninguém faz ideia qual seja. Num país em que a protecção dos dados individuais fosse levada a sério isto era um assunto politico de primeira importância. Mas estamos em Portugal, onde a privacidade e segurança dos dados pessoais são encarados como uma coisa que só tem importa no guião de alguns filmes de Hollywood.

3 comments:

Carla Luís disse...

Junta a isso o Cartão do Cidadão, com respectivo acesso às bases de dados dos cartões que veio substituir: bilhete de identidade, cartão de contribuinte, cartão de beneficiário da Segurança Social, cartão de eleitor e cartão de utente do Serviço Nacional de Saúde.
Coisa pouca, já se vê.
***

joshua disse...

A invasão da privacidade é um dado e seguirá imparável. Sentemo-nos a assistir.

Anónimo disse...

Apesar de tudo há obsessões pelo défice bem piores. Por cá até fazem perder a cabeça a um santo.
Os ingleses, pelos vistos, são uns felizardos: têm um crucifixo sempre à mão.
Por cá, não há forma de cada um se libertar da maldita da coroa de espinhos. Seria uma sorte, se o extravio de uma base de dados fosse a pior coisa que nos podia acontecer.
Abrasivo